Em um longo processo de reflexão sobre o mundo, a vida e as
possibilidades de saber, concluiu que nada sabia, diante da imensidão de
informação e conhecimento que já passaram e ainda passam pela humanidade.
Saiu do seu cantinho de reflexão e deparou-se com quem, não obstante a
grandiosidade do mundo, pensava saber tudo, inclusive ter as respostas
definitivas e inquestionáveis sobre a vida, a morte, o sentido da existência e
o ideal de comportamento de todos os seres humanos, a despeito de sua história,
situação ou ponto de vista.
- Exagerado – pensou – Presunçoso, arrogante.
Mas algo lhe passou despercebido: todo exagero costuma ter seu oposto.
De cada lado do ponto de equilíbrio existem duas (ou mais) tendências. Se aquele
que proclama aos quatro ventos tudo saber é exagerado na sua pretensão de
saber, não seria exagero também achar que nada se sabe?
Afinal, ela havia estudado mais, refletido mais e tido muito, mas muito
mais cuidado ao ponderar perspectivas do que aquele que lhe causou indignação. Seria
mesmo certo continuar achando que nada sabia, quando em comparação, seu íntimo
gritava saber ainda mais do que aquele que o proclamava?
Restava tentar enxergar o equilíbrio, que parecia distante aos dois.
Apesar do equilíbrio não evocar grandes paixões, como a do homem que pensa tudo
saber, reconhece conquistas. E apesar de não ser mártir de humildade, como de
quem pensava nada saber, reconhece seus limites. O equilíbrio sabe que nenhum
ser humano detém todo o conhecimento sobre tudo, e nem é qualificado para ditar
regras de comportamento a todos os outros seres humanos. Mas ele sabe, também,
que o estudo e a reflexão levam ao saber, e que esse saber não deve ser negado,
especialmente quando a guerra de conhecimento é entre o que oprime por pensar
que sabe tudo e o que se omite por pensar que nada sabe.
De cima do muro, local para que os extremos gostam de apontar como se
fosse o limbo da humanidade, a ser rejeitado por falta de algum excesso que
lhes é caro, o equilíbrio pondera e percebe o que está em jogo. Nem é
prepotente a ponto de desprezar a imensidão do conhecimento humano, nem é fraco
a ponto de desprezar o próprio conhecimento frente ao de outras pessoas.
Ter consciência de si não te torna um ícone de nenhuma legião de
extremos; te torna sábio.
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