Notei uma
diferença grande na frequência e intensidade do uso de redes sociais entre gente
que conheci na França e quem conheço no Brasil. No Brasil, toda semana tem uma
nova polêmica, uma novo absurdo, uma nova notícia diante da qual todo mundo se
sente obrigado a se posicionar. Aparece texto grande, texto pequeno, meme,
áudio e tudo o que é curtição e compartilhamento sobre o tópico do momento.
As pessoas
que eu conheci na França mal abrem o Facebook. No entanto, elas tomam mais atitudes
diante do que incomoda. Denunciam, cobram diretamente, não com textos soltos na
própria timeline, mas com reclamação protocolada ao órgão responsável.
No Brasil
alguém que se considere politizado fala o que acha e julga quem não falou como alienado.
Vaga de emprego que aparece loucamente nas listas brazucas e que nunca vi na
França: analista de redes sociais. Parece que é muito importante falar para os
seus contatos. Os mais engajados ainda falam na rua, fazem cartazes, gritam. Na
hora de ligar pra qualquer órgão responsável ou de denúncia, porém, é a mesma
conversa “ah, mas não adianta...”, “o Brasil é assim mesmo, não tem o que
fazer”, “ligar pra quê? Não vai dar em nada”, ou melhor ainda “realmente,
alguém deveria ligar!”.
É profecia
autorrealizada – não adianta, então vou continuar fazendo com que nunca
adiante. Às vezes basta dizer diretamente a alguém que essa pessoa está errada
em algo que a pessoa passa a acertar, mas a maioria das pessoas não diz e segue
reclamando da pessoa pros outros, que nada podem mudar. A “denúncia” é sempre
indireta – nunca para a pessoa que precisa ouvir, sempre para os próprios
conhecidos, com o cuidado de que eles não sejam tão próximos de quem está sendo
criticado, porque aí a coisa pode ficar real.
Não digo que
ninguém possa reclamar, eu também reclamo. Mas antes me pergunto: eu posso
fazer algo? Se você pode tentar mudar a realidade e não tenta, apenas publica
no seu Facebook o quão absurdo é que as coisas sejam como são, você é cúmplice.
Pior: cúmplice daquilo que você mesmo critica.
Publique, mas
faça; escreva, mas denuncie; reclame, mas diga direta e claramente àquela
pessoa que ela tem que mudar de postura; poste, mas ligue na prefeitura, fale
com vereador e faça o que estiver ao seu alcance. Todo mundo precisa de
desabafo, mas é evidente que a maioria dos brasileiros só desabafa, mesmo
quando pode agir.
Ninguém está
fiscalizando se você dá seu palpite sobre todo assunto, mas se você der um
exemplo de atitude, vai chamar a atenção de muitos. Vai chamar muita dor de
cotovelo também, especialmente daqueles que não querem agir e se sentem
pressionados pelo contraste que você cria, mas o que importa mais? Agradar quem
quer que você não brilhe ou melhorar a realidade?