07/11/2017

A conversa da semana

Notei uma diferença grande na frequência e intensidade do uso de redes sociais entre gente que conheci na França e quem conheço no Brasil. No Brasil, toda semana tem uma nova polêmica, uma novo absurdo, uma nova notícia diante da qual todo mundo se sente obrigado a se posicionar. Aparece texto grande, texto pequeno, meme, áudio e tudo o que é curtição e compartilhamento sobre o tópico do momento.
As pessoas que eu conheci na França mal abrem o Facebook. No entanto, elas tomam mais atitudes diante do que incomoda. Denunciam, cobram diretamente, não com textos soltos na própria timeline, mas com reclamação protocolada ao órgão responsável.
No Brasil alguém que se considere politizado fala o que acha e julga quem não falou como alienado. Vaga de emprego que aparece loucamente nas listas brazucas e que nunca vi na França: analista de redes sociais. Parece que é muito importante falar para os seus contatos. Os mais engajados ainda falam na rua, fazem cartazes, gritam. Na hora de ligar pra qualquer órgão responsável ou de denúncia, porém, é a mesma conversa “ah, mas não adianta...”, “o Brasil é assim mesmo, não tem o que fazer”, “ligar pra quê? Não vai dar em nada”, ou melhor ainda “realmente, alguém deveria ligar!”.
É profecia autorrealizada – não adianta, então vou continuar fazendo com que nunca adiante. Às vezes basta dizer diretamente a alguém que essa pessoa está errada em algo que a pessoa passa a acertar, mas a maioria das pessoas não diz e segue reclamando da pessoa pros outros, que nada podem mudar. A “denúncia” é sempre indireta – nunca para a pessoa que precisa ouvir, sempre para os próprios conhecidos, com o cuidado de que eles não sejam tão próximos de quem está sendo criticado, porque aí a coisa pode ficar real.
Não digo que ninguém possa reclamar, eu também reclamo. Mas antes me pergunto: eu posso fazer algo? Se você pode tentar mudar a realidade e não tenta, apenas publica no seu Facebook o quão absurdo é que as coisas sejam como são, você é cúmplice. Pior: cúmplice daquilo que você mesmo critica.
Publique, mas faça; escreva, mas denuncie; reclame, mas diga direta e claramente àquela pessoa que ela tem que mudar de postura; poste, mas ligue na prefeitura, fale com vereador e faça o que estiver ao seu alcance. Todo mundo precisa de desabafo, mas é evidente que a maioria dos brasileiros só desabafa, mesmo quando pode agir. 

Ninguém está fiscalizando se você dá seu palpite sobre todo assunto, mas se você der um exemplo de atitude, vai chamar a atenção de muitos. Vai chamar muita dor de cotovelo também, especialmente daqueles que não querem agir e se sentem pressionados pelo contraste que você cria, mas o que importa mais? Agradar quem quer que você não brilhe ou melhorar a realidade?

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