Quem mais se importa
com campanha eleitoral são os partidos políticos. Ainda assim, é muito comum
ver pessoas analisando a política como se durante todo o mandato de um
representante a eleição estivesse em jogo e cada um tivesse que defender uma
bandeira eleitoral. Muitas pessoas que não são e não pretendem ser afiliadas a
partido algum enxergam seus representantes como representantes de bandeiras, e
não da gestão de sua cidade, estado ou país.
Uma das consequências
mais sérias disso é que as ações desses representantes são vistas e aceitas
como estratégias eleitorais, não como um serviço público. Se o representante em
questão não pretende disputar nova eleição, sua atuação é imediatamente
associada a outro candidato a quem esteja ligado, quando seu trabalho deveria ser
analisado por competência, em prol do bem comum.
Crítica corriqueira à
“massa de eleitores” é que, depois das eleições, ela esquece em quem votou.
Ouso dizer que essa é a postura ideal – não por falta de atenção, mas
intencionalmente. Façamos o esforço de deixar de lado quem escolhemos nas
eleições para ver a pessoa eleita como representante de todos. Passado o
processo eleitoral, é assim que cada político deve ser tratado: como
representante e funcionário de todos, não apenas de quem lhe deu um voto.
O que se ganha ao
abrir mão da responsabilidade de fiscalizar o governo só porque não foi você
quem o colocou no poder? O que se ganha ao passar os quatro anos de um mandato
agindo como se seu principal interesse fosse ganhar a próxima eleição, e não
uma cidade digna de se viver? No caso contrário, quando o seu candidato é
eleito, cabe a pergunta correspondente: o que você ganha defendendo o seu
candidato acima de tudo, sem enxergar ou reclamar quando ele erra? O voto é
secreto, ninguém é obrigado a dizer em quem votou, mas mesmo assim há muita
gente que cultiva uma espécie de orgulho partidário a ser defendido, postura
que compromete a luta por uma gestão decente.
Não é nosso papel
fazer propaganda eleitoral, ainda mais depois de passadas as eleições. A
política precisa ser entendida como um sistema de governo que serve para uma
sociedade democrática se autogerir, mesmo tendo muita gente pra cuidar e
decidir. Se antes era muito difícil se manifestar, por falta de meios
tecnológicos, hoje temos acesso a telefone, e-mail e página na internet de
nossos representantes. Quando não houver abertura, ainda dá pra se organizar,
se manifestar na rua, acessar a mídia ou ouvidorias. De qualquer forma, em um
contexto como o nosso, podemos participar. Quando a eleição passa, é o momento
de fiscalizar, pegar no pé, reconhecer os bons serviços e admitir o que está
errado, independente de você ter votado ou não naquele partido – ele é seu
funcionário e deve ser cobrado e ajudado para trabalhar da melhor forma que
puder.
É preciso parar de
tratar partido como time de futebol e passar os quatro anos do mandato tentando
ressaltar as virtudes do próprio e atacar os defeitos dos outros. Isso não leva
a nada, além de uma concentração da vida política apenas em época eleitoral,
como se fosse a Copa do Mundo, e não uma estratégia decisiva para o próprio
transporte, a própria saúde e a própria qualidade de vida.
A meu ver, o grande
interesse que circunda as pesquisas eleitorais mostra uma coisa muito clara:
existe uma multidão interessada no jogo, mas que não quer assumir a
responsabilidade pelas próprias escolhas, e prefere dividir a culpa de votar
errado com “a massa”, ou atribuí-la “aos outros” ou, no limite, alegar
impotência porque “é tudo igual”.
Essas mesmas pessoas
são as que vão dividir a culpa de não reclamar, de não cobrar, de não
participar e de não fazer nada pra que aquele candidato que ajudou a colocar no
poder seja digno de seu voto – é o famoso “ninguém faz, não adiantaria se eu
fizesse”. Talvez esses próprios eleitores não achem o próprio voto digno, no
fim das contas, e só queiram uma boa estatística pra esconder a sua falta de
interesse com relação à própria cidade.
Perto das eleições
tem muita gente com um interesse fora do comum nas decisões políticas; muitas
pessoas me perguntam quem eu gostaria que ganhasse. A resposta que eu
queria dar, como cidadã, não apenas eleitora-torcedora-de-time-político é: não
importa. O que importa é o que vamos fazer depois que alguém ganhar.