Depois de ver-se no meio do mar, voltar à tona e não
encontrar o próprio barco, mas outra nau, com nova tripulação. A água, o novo e
a incerteza da praia pra onde segue a nova realidade. Resta navegar.
As minhocas da minha cabeça às vezes precisam falar e eu escolhi esse lugar. Caso queira comentar, puxe uma cadeira e sinta-se à vontade. Minhas minhocas não são antissociais.
03/07/2013
06/01/2013
Inventando tramas
É muito gostoso ver
frases curtas e filosofias simples de se viver a vida, como se nelas estivesse
a resposta para todos os males da humanidade. Mas sinto dizer: o mundo não é
plano, as pessoas não são claras e as lógicas não são simples.
As coisas são e
existem sem necessariamente fazer sentido, e ainda assim multidões se desgastam
e gastam seus recursos buscando um fio mágico que ligue toda a trama de
acontecimentos das suas vidas, dentro de um mundo ainda mais cheio de tramas,
que para elas “tem que ter um porquê”. Não concebem – talvez nem queiram conceber
- que talvez não haja uma trama, mas fios soltos, enrolados, misturados e
confusos. Quem disse que tem que haver uma ordem por trás de tudo? Não faz
parte da evolução mesma a mudança de rumo, a revisão de posturas, a tentativa
de algo diferente?
Seres humanos mudam o
tempo todo e reconhecem isso em si mesmos. Quem disser que nunca mudou de
ideia, que nunca se decepcionou ou adotou outra postura está mentindo. Ainda
assim, muitos insistem em achar que o “universo”, os fatos e os outros seres
humanos são lineares, coesos e passíveis de explicação.
É comum ouvir em
discussões de trabalho ou família as pessoas tentando entender o que se passa
na cabeça de outras, como se essas outras tivessem planos estruturados e
seguissem enredos para alcançar objetivos (que geralmente envolvem o
especulador em questão). Não percebem que esses planos que lhes atribuem são
inviáveis para quem luta pela vida; que ninguém tem condições de escrever uma
novela e jogar xadrez com pessoas vivas de modo a determinar as linhas do
destino. Às vezes esperamos dos outros uma coerência que é impossível ter quando
se tem a mente aberta para as alternativas do mundo. O que eu acreditava ontem
pode estar em total desacordo com o que me move hoje, se eu tiver aprendido
algo novo, e isso acontece com os outros também.
Desconfio até que a
maioria das pessoas somente se deixa levar, reagindo ao que acontece a cada
momento, sem se importar muito se isso faz algum sentido no longo prazo. Depois
tenta encontrá-lo, talvez, ou simplesmente atribui a origem do que fez a um
momento de desequilíbrio, fome, opinião. Há sempre uma boa justificativa para o
que não soubemos racionalizar. Há sempre uma articulação de pensamentos que nos
fará ficar em paz com nossas próprias incoerências. Se não fizer sentido, basta
atribui-lo depois, buscando elementos de qualquer um dos milhares de dias durante
os quais passamos pela vida tentando acertar.
Não somos planos, o
mundo não é uma peça de tecido com fios encadeados e as pessoas não são simples
e muito menos compreensíveis. Somos seres errantes vivendo, interpretando e
fazendo escolhas diferentes a cada momento. Tentando acertar, errando; mudando
de ideia quanto ao que é certo, fazendo escolhas que contradizem as primeiras,
depois. Simplesmente, sem grandes planos ou pretensões maquiavélicas, com
raríssimas exceções. E se nós mesmos somos tão inconstantes, imaginar que o
conjunto dessas inconstâncias é um plano maior com coerência última exige, no
mínimo, muita imaginação. Ou talvez se coloque nesse plano infinito e invisível
a esperança de que alguma coisa nesse mundo embaralhado tenha algum sentido.
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