A internet permite dizer
tanta coisa para o nada que me pergunto se não estaremos perdendo a capacidade
de dizer algo para alguém. Quando jogo o que eu penso no universo a esmo,
imaginando que talvez um dia alguém possa ler, estou abrindo mão da responsabilidade
de transmitir qualquer coisa, sob o pretexto de que ninguém chegou ao que eu
queria dizer.
Quem vai ler esse texto?
Quem precisa dele ou quem estava aqui por acaso? Será isso o que procuramos?
Nos expressar, não importando quem queira saber o que sai de nossos
pensamentos?
E quando eu quero? E
quando eu tenho um alvo, alguém para quem eu gostaria de dizer algo, que eu
gostaria que pensasse a respeito, por cuja resposta eu anseio? Terei eu coragem
de dizer diretamente, ou vou tentar usar as probabilidades da rede para tentar
chegar a essa pessoa? E se não chega? Perco a mensagem no silêncio?
Pior: posso ainda
interpretar o silêncio como uma resposta, quando poderia muito bem pedir uma de
verdade, não imaginada, não covarde, madura. Em vez de indiretas, diálogos; em
vez de proclamações de valores, debates. Mas tenho dúvidas sobre a nossa
abertura a levar em frente trocas com outras pessoas, porque trocar implica se
abrir ao que o outro tem a dizer, não apenas esperar que ele se abra para o que
nós temos.