“Se falar com fulano, não é meu amigo.”
“Se curtir tal página, eu deleto.”
“Se não fizer o que eu quero, eu elimino”: versões
dessa mensagem estão espalhadas pelas relações sociais, online e off-line,
explícitas ou disfarçadas no desprezo, nas escolhas e até nas fotos de quem vai
ser lembrado como estando no evento ou quem nunca vai ser visto porque não foi
convidado.
As relações sociais são um campo em que todo
mundo pode aprender a exercer poder. Esse é um campo, entre outros, em que se
aprende a linguagem, os códigos, os símbolos e se disputa capital – não o de
Marx, o de Bourdieu, não o dinheiro, o reconhecimento. E como todos que vivem
em sociedade estão sujeitos ao que é feito nesse campo também, é importante
refletir sobre o que cada frase, gesto ou sinalização representa.
As frases acima, para mim, representam uma
coisa: tentativa de controlar o comportamento do outro pelo constrangimento. Eu
também tenho desafetos. Tem gente que eu detesto, que perdeu minha confiança,
mas que é amiga de amigos meus. Torço para que não os decepcione também,
explico a minha versão da história quando me perguntam (porque nem todo mundo
quer saber mais de uma versão, especialmente quando a primeira é dramática),
mas não quero ser o tipo de pessoa que constrange relacionamentos em nome da
minha visão de mundo, da minha experiência, enfim, do meu umbigo. Se meus
amigos querem ser amigos dos meus desafetos, paciência. Eu não mando neles.
Tem sim gente que eu deleto das minhas redes
sociais, por não ver nenhuma razão para manter. Tem gente com quem eu desisto
de discutir por não ver nenhuma abertura para pensar. Mas não me lembro de
ficar ameaçando as pessoas de privá-las do mundo maravilhoso que é o meu
círculo de amigos caso elas discordem de mim em algum ponto.
Que qualidade tem uma relação mantida com base
no medo, na pressão, na censura? São palavras fortes, sim, que têm um
significado maior em outros contextos, mas dentro desse contexto – pelo menos
no contexto das amizades – eu quero saber que meus amigos estão se sentindo bem,
e não tentando pisar em ovos para seguir as regras que eu determino.
Assim, se você gostar de quem me traiu, espero
que não se repita com você. Se você curtir uma página de que eu não gosto,
espero um dia entender por que, ou que você entenda porque não deveria. Se você
não fizer o que eu quero, que bom, quer dizer que você é livre para ser
diferente.