24/12/2017

Amizade ou medo?

“Se falar com fulano, não é meu amigo.”
“Se curtir tal página, eu deleto.”
“Se não fizer o que eu quero, eu elimino”: versões dessa mensagem estão espalhadas pelas relações sociais, online e off-line, explícitas ou disfarçadas no desprezo, nas escolhas e até nas fotos de quem vai ser lembrado como estando no evento ou quem nunca vai ser visto porque não foi convidado.
As relações sociais são um campo em que todo mundo pode aprender a exercer poder. Esse é um campo, entre outros, em que se aprende a linguagem, os códigos, os símbolos e se disputa capital – não o de Marx, o de Bourdieu, não o dinheiro, o reconhecimento. E como todos que vivem em sociedade estão sujeitos ao que é feito nesse campo também, é importante refletir sobre o que cada frase, gesto ou sinalização representa.
As frases acima, para mim, representam uma coisa: tentativa de controlar o comportamento do outro pelo constrangimento. Eu também tenho desafetos. Tem gente que eu detesto, que perdeu minha confiança, mas que é amiga de amigos meus. Torço para que não os decepcione também, explico a minha versão da história quando me perguntam (porque nem todo mundo quer saber mais de uma versão, especialmente quando a primeira é dramática), mas não quero ser o tipo de pessoa que constrange relacionamentos em nome da minha visão de mundo, da minha experiência, enfim, do meu umbigo. Se meus amigos querem ser amigos dos meus desafetos, paciência. Eu não mando neles.
Tem sim gente que eu deleto das minhas redes sociais, por não ver nenhuma razão para manter. Tem gente com quem eu desisto de discutir por não ver nenhuma abertura para pensar. Mas não me lembro de ficar ameaçando as pessoas de privá-las do mundo maravilhoso que é o meu círculo de amigos caso elas discordem de mim em algum ponto.
Que qualidade tem uma relação mantida com base no medo, na pressão, na censura? São palavras fortes, sim, que têm um significado maior em outros contextos, mas dentro desse contexto – pelo menos no contexto das amizades – eu quero saber que meus amigos estão se sentindo bem, e não tentando pisar em ovos para seguir as regras que eu determino.

Assim, se você gostar de quem me traiu, espero que não se repita com você. Se você curtir uma página de que eu não gosto, espero um dia entender por que, ou que você entenda porque não deveria. Se você não fizer o que eu quero, que bom, quer dizer que você é livre para ser diferente. 

22/12/2017

guardiões da justiça - para alguns

Não é irônico que quando você denuncia algo, o perseguido seja você?
Não é ainda mais irônico que a pessoa que te persegue também tenha o hábito de denunciar empresas?
Claramente não é sobre justiça, é sobre poder. Quem pode reclamar de tudo versus quem é perseguido caso tente.

Justiça pra inglês ver enquanto quem a deturpa ainda fala mal do "povo brasileiro". 

17/12/2017

Ambição

A obrigação coletivamente instigada de ter ambição faz com que tenhamos dificuldade em assumir quando gostamos da nossa vida. Sempre tem que ter algo mais a querer, algo mais a alcançar. Achar que está tudo bem gera reações de pena de quem acha que é necessário querer sempre mais para ser alguém de valor. A questão que eu coloco é: o que alguém sempre ambicioso é capaz de aproveitar além dos fugidios momentos de avanço? Minha ambição é ser capaz de apreciar o quão boa é a minha vida, por mais que exista gente com padrões mais exigentes que os meus que ache que não.

14/12/2017

Ver o mundo

A indústria do turismo fez um ótimo trabalho de marketing ao incutir na cabeça das pessoas que elas precisam conhecer o mundo. Se antes os vilarejos da Europa eram visitados apenas por pessoas com genuíno e espontâneo interesse em sua história e modo de vida, hoje seus habitantes convivem quase diariamente com máquina fotográficas de milhares de passantes que precisam postar na internet que estiveram lá.

10/12/2017

Silêncio

O silêncio também oprime. O silêncio como resposta a uma demanda de emprego; o silêncio depois de uma tentativa de interagir; o silêncio depois de um “eu te amo”; o silêncio contínuo depois de uma briga.
Às vezes precisamos de palavras (quase sempre) e quando, na expectativa de tê-las, nos deparamos com o silêncio, muita agonia pode seguir.
Será possível pegar esse silêncio “não” e transformar em silêncio “sim”?
Pegar a ausência de resposta e transformar em paz?
Pegar a falta da conversa e transformar em uma atividade nova?

A verdade é que o silêncio pode provocar uma algazarra interior, ensurdecedora. 

03/12/2017

Além de si

E se em vez de jogarmos todos os nossos pensamentos imediatamente na internet, os escrevêssemos em um arquivo e deixássemos pra analisar depois, com outro humor, em outro contexto, como se fosse uma análise externa?
E se não dedicássemos tanto tempo a defender pontos de vista de impulso e nos permitíssemos aprender com os ataques feitos ao que pensamos?
Perdi a conta de quantas vezes discordei do meu próprio ponto de vista fazendo isso.
Será que se eu os tivesse publicado imediatamente eu me permitiria discordar?
Será que se outra pessoa discordasse de mim eu não me agarraria à ideia de ter que defender o que eu publiquei – defendendo, acima de tudo, meu ego?

Será que eu teria me permitido pensar para além de mim?