Fiz uma visita à Fundação Dorina Nowill há alguns meses.
Além de um trabalho belo e necessário, algo me chamou a atenção: eles têm como
clientes algumas empresas sérias e mesmo veículos de comunicação de massa, como
a revista Veja. Cardápios em Braille, revistas transcritas para áudio e
diversas soluções para tornar produtos e serviços acessíveis.
Caridade? Não. Promoção dos direitos das pessoas com
deficiência? Sim, por consequência. Mas o que parece mesmo estar em jogo aqui é
visão de mercado. Infelizmente vivemos num mundo que restringe muito as opções
de pessoas com deficiência, por não se dispor a adaptar seus conteúdos. Poucos
são os sites que adaptam a leitura, poucos são os cursos que estão preparados
para auxiliar uma pessoa com deficiência em seus estudos. Geralmente espera-se
delas que sejam heroínas, que lutem bravamente todos os dias para superar suas
dificuldades, que enfrentem mais dificuldades que as pessoas sem deficiência e
se conformem com isso.
Na verdade, o que fazem ao virar os olhos para esse 24% da
população brasileira é perder mercado. Cada ação de apoio a pessoas com deficiência
não é uma ação perdida no meio de milhões, como são hoje as iniciativas de
marketing mais comuns. Uma ação dessas, se comunicada a uma instituição, entra
em uma rede e é espalhada entre quem precisa da solução posta. Aposto que todo
mundo já ouviu falar de grandes grupos de surdos reunindo-se periodicamente para
confraternizar em algum local, ou em uma determinada região que cegos costumam
frequentar. Pois é, hoje eles precisam agir juntos para terem mais acesso e
facilidade de aproveitar os serviços da cidade. E as empresas que não percebem
o potencial disso, na minha opinião, têm menos visão do que os cegos que se apoiam.