29/06/2018

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Procuram-se pessoas capazes de argumentar racionalmente, mesmo quando suas vísceras mandam agarrar o pescoço das outras sem nem saber explicar a origem dessa raiva.
Procuram-se pessoas que se dispõem a ler um texto que possa enriquecer a conversa, que estão mais interessadas em evoluir do que em ganhar a discussão, que não recorram à violência, nem física nem simbólica, para se referir a alguém de quem discordam.
Procuram-se pessoas raras, para conversas inteligentes, dispostas a mudar de opinião diante de argumentos convincentes.
De pessoas donas da verdade, que se sentem rodeadas por burros porque nem todos têm a mesma opinião que elas, estamos sobrecarregados.
Procuram-se pessoas dispostas a pensar para além dos próprios preconceitos, mesmo que ainda não saibam direito quais eles são.
Procuram-se pessoas que não têm certeza, que sabem que erram, que discordam, mas que são capazes de respeitar mesmo assim.
É urgente encontrar pessoas que aceitam tentar entender o ponto de vista oposto antes de tentar esmagá-los. Paga-se caro.
Procuram-se pessoas para conversar em mesas de bar, em casa e em situações em que a conversa flua para além da tela, que aceita tudo o que dizem sem exigir que vejam os olhos do outro.

22/06/2018

Borboletas de papel


Ao contrário do que é pregado em muitos livros de autoajuda e sites motivacionais, não acho que positividade possa ser forjada. Não de verdade. Se sua vida não agrada, forçar positividade é fingimento. Pode gerar um sorriso ou outro, pode atrair momentos que compensem o que há de errado, mas não se compara em nada à positividade de uma vida feliz.
Há alguns anos eu estava com um jeito amargo de ver a vida. Mesmo as coisas mais positivas que aconteciam geravam em mim um sentimento de desconfiança, de contrariedade, um “ok, mas...”. Havia pendências que pesavam sobre meu julgamento, uma realidade que matava meu otimismo e me transformava nessa pessoa negativa.
Nesse contexto, eu sei que um monte de gente me culpou, explícita ou implicitamente. Achavam que a culpa da minha infelicidade era a minha negatividade, e não o contrário. Achavam que se eu me forçasse a sorrir, se eu me forçasse a sociabilizar com quem eu não gosto, em suma, se eu me forçasse a ver borboletas no cenário do pesadelo, eu começaria a ser feliz.
Algum tempo depois de decidir mudar de cenário, eu digo: não era culpa minha. Aliás, se alguma culpa eu tinha era a de não dar um basta no que me fazia infeliz. Era de deixar que a realidade em que eu estava inserida fizesse de mim uma pessoa negativa. O tempo passou, eu me desintoxiquei e hoje me pego sendo positiva sem forçar.  
Tenho problemas e dificuldades, mas elas não me desanimam, porque a balança está positiva. Eu vejo borboletas, não porque eu estou passando o giz sobre um cenário sombrio, mas porque há borboletas nesse cenário, em meio a pedras e obstáculos, mas há.
Eu gosto de pessoas que sorriem. Mas eu espero que os sorrisos sejam verdadeiros. Eu espero que as pessoas toquem as borboletas em vez de fingir vê-las. Pode demorar e dar trabalho, mas vale muito mais a pena plantar um jardim do que colar fotos de árvores no concreto.