Não havia me dado conta do quanto poderia crescer.
Só sacudida de uma experiência a outra as cortinas foram se abrindo, muito lentamente.
O tamanho delas é o maior mistério, ainda.
Ao pregar a humildade, me ensinaram a admitir que a cortina é grande, talvez infinita, que nunca paramos de aprender. Mas esse "grande" não é visível.
Posso admitir que ainda há muito a evoluir por conclusão lógica, sem contudo me dar conta disso, como quem observa uma conta de soma e aceita como verdadeira, sem saber se duas maçãs mais quatro peras resultarão em seis frutas.
Admitir não é perceber. É somente com as experiências, somente com a percepção do quão infantil era ontem que consigo me surpreender com o quanto tinha que mudar e não sabia; com o quanto meu orgulho não me deixaria perceber que o que eu era provocaria fracassos doídos, caminhos perdidos e tempo despendido olhando para o lado errado.
Estava errada e não sabia. Estava verde, diria. E por mais que o perceba, e que seja tentador transpor essa percepção ao presente, não consigo.
Simplesmente porque não posso dizer o que será de mim amanhã.
Simplesmente porque não posso evoluir agora por experiências que ainda não vivi; assim como uma pessoa não pode apaixonar-se por quem não conheceu ainda.
Resta o apreço pelo que há por vir, pelas cicatrizes que abrirão caminho para a pele mais firme; para os carinhos que desatarão as amarras mais sem sentido.
Resta respeitar quem fui, com seus defeitos que certamente determinaram o caminho seguido; com suas qualidades também - essas, convenientemente associadas a uma imagem tolerável de mim.Orgulho de fresta visível.
Resta analisar, sempre que possível, o que poderia ter sido, à luz dos conhecimentos adquiridos, e mais ainda, o que pode ser.
E resta ser grata, especialmente pelas pessoas do caminho, que são senão as únicas, as mais importantes partes disso.