Parece a
mesma coisa – pra quem acha que tudo o que é ilegal deixa automaticamente de
ser feito. Parece simples seguir a lei em todos os seus pontos – pra quem tem
uma vida bem estabelecida, com vantagens sociais acima da média e escolhas que
combinam com o que o status quo
aplaude.
A
realidade, no entanto, é muito mais complicada. A verdade é que nunca tivemos o
aborto legalizado no país, mas ainda assim um milhão mulheres realizam abortos
todo ano, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, e uma boa parte
morre por conta disso. Diante desse cenário, que é sim mais complexo do que o
mundo ideal das discussões virtuais, existe gente pensando em como melhorar, em
como mudar a sociedade, em como oferecer melhores condições de vida às
mulheres.
Entre essas
pessoas há as que são favoráveis à legalização do aborto, há quem pense em
casos em que ele deveria ser legalizado, pensam em políticas públicas, discutem
pílula do dia seguinte, educação sexual, apoio governamental à gestante,
prevenção à violência... Existe muita coisa entre os que querem mudar o mundo.
Já os que
não querem, mas ainda assim se preocupam com sua autoimagem em uma discussão
polêmica, simplesmente ignoram a realidade e acham que ser contra a legalização
do aborto é o mesmo que defender que ele nunca aconteça. Ignoram que o aborto é
proibido e acontece. Ignoram que as pessoas reais vão além de seus dogmas
particulares e que bater o pé e dizer “sou contra” não evita a morte de
ninguém. Aliás, nem evita o aborto.
Podemos:
1.
Escolher mudar o mundo e apresentar
argumentos com base na realidade
2.
Vestir a capa de eternos ingênuos e
ficar gritando nossos dogmas em discussões acaloradas e protegidas da concretude
da vida.
Nos dois
casos podemos nos sentir muito bem conosco. No primeiro, com base no que
deixaremos aos nossos filhos e aos filhos dos outros – de todos os nascidos,
mesmo de violência, mesmo indesejados, mesmo maltratados, em termos de
consequências práticas às próprias atitudes.
No segundo,
fica aquele orgulho individual de ter tido um discurso moralmente bonito, e
talvez de ter reprimido o pensamento daqueles que vão dar à luz crianças
indesejadas – porque afinal, pensar em contracepção ou aborto é feio, e aqueles
que se entregam ao desejo sexual não regulados pelas normas sociais e
religiosas devem ser castigados com uma responsabilidade para qual não estão
preparados. Como se criar uma pessoa fosse um castigo, e não algo que vai
definir a vida de uma pessoa.
Em que caso
se faz um mundo melhor?