18/10/2018

1984


Em 2006 mudamos para a Vila Sônia com a promessa de que lá haveria uma estação de metrô. Conforme os anos passavam e a estação não ficava pronta, cobramos o metrô por meio da associação de bairro. Ainda me lembro dos representantes dizendo que estourando em 2009 ia sair. Especulação imobiliária a mil, congestionou ainda mais o já lento caminho da região para o centro. Saí de lá em 2010 sem ver a estação pronta. Mudei para a França, voltei e ainda nada. Pesquisando um pouco na internet, acho previsões para 2018, 2019 e 2020. O mais curioso nem é isso. O curioso é achar inúmeros artigos e notícias dizendo que a construção começou em 2010, que a primeira previsão dada foi 2012... Então minhas memórias, fotos e fatos estão todos errados? Eu delirei que morava lá e falava nas reuniões de associação de bairro bem antes? Depois de 12 anos de enrolação, não só as coisas não andam e o mesmo governo continua no poder do estado, mas as notícias também mudam o passado. 1984 está aí.

04/10/2018

Vaidade e inteligência


Alguém compartilha uma ideia genial para mudar a sociedade. As pessoas veem, reconhecem a importância, mas deixam pra ver mais tarde – o que significa nunca. Alguém diz que as mulheres que têm a letra “a” no nome são mais bonitas. Milhares curtem, compartilham, sorriem. “Pessoas bagunçadas são mais inteligentes”, “pessoas quietas são fiéis”, “veja aqui o que as imagens dizem de você” – são tantos exemplos de massageadores aleatórios de ego que ganham popularidade que só posso concluir que a carência anda em alta; que suprime tudo o que as pessoas dizem ser seus valores e prioridades; mais: que a carência é grande a ponto de ser perigosa, pois políticos e outros espertinhos sabem usá-la.
“Você é tão inteligente! Não como aquele bando de imbecis que votam no...” E eis um novo militonto defendendo quem ele nem sabe o que faz. “Você é tão preciosa pra mim que eu tento te proteger da verdade.” E eis mais uma moça sustentando um relacionamento abusivo. “Fulano é tão ético! Se diz ateu, mas na verdade age pelas mãos de deus” – e eis a moralidade sendo confundida com religiosidade e reprimindo a liberdade de pensamento.
É preciso cuidar do psicológico das pessoas, não só como uma questão burguesa de autoconhecimento e filosofia pessoal. É preciso que o psicológico esteja forte o bastante para resistir quando o mundo quiser imbecilizar massas pela vaidade; formar rebanhos de acéfalos gritando slogans perigosos quando no fundo só querem desesperadamente melhorar a própria autoimagem.