O que dá pra concluir de
quem compartilha opiniões políticas sem conferir dados, sem fazer análise, sem
ter o mínimo de postura crítica com relação ao que compartilha? Eu concluo que
a opinião é puro sentimento, sem objetividade. Falou bem do meu partido,
compartilho. Falou mal, ignoro ou rechaço. Números? Os do meu partido são
sempre melhores. Os do seu partido mostram catástrofes!
Isso é o que eu chamaria
de sentimentalismo partidário. Inimigo da razão e desinteressado pelo progresso,
seu único objetivo é mostrar que eu estava certa desde o princípio e que todos
os que discordam de mim são uns retardados. Se esse tipo de sentimento não pode
ser explicado por dados reais (apenas os manipulados são aceitáveis, para se
encaixarem nos parâmetros do primeiro parágrafo), de onde ele vem?
Minhas hipóteses mais
fortes:
1.
Preconceito.
Se um partido está associado a pessoas que eu desprezo, logo eu tenho que
desprezar o partido, especialmente se não é politicamente correto dizer que eu desprezo
essas pessoas. Exemplo: o empresário americano Wayne LaPierre declarou
recentemente que Hillary Clinton na presidência não seria aceitável porque com
Obama, os Estados Unidos já tiveram a sua cota de “demograficamente simbólico”.
Com a declaração, a mídia identificou o preconceito: contra negros e mulheres.
Mas isso foi apenas porque ele deixou o preconceito escapar. Se tivesse o
hábito de muitos de seus compatriotas (e milhões de brasileiros) tentaria achar
razões para desprezar Obama e Hillary sem deixar claros seus preconceitos.
Como? Selecionaria tudo o que desabona os seus partidos, mesmo que baseado em
dados falsos, e ressaltaria os números fantasiosos que favorecem a oposição.
Até alguém conferir, a mentira já foi espalhada e o seu preconceito já foi
defendido.
2.
Identificação
de classe. Esse não se afasta muito do preconceito, mas tem uma nuance
interessante: o da classe como situação econômica, mas também como ideologia, desvinculada
da primeira. Exemplo: o cidadão sofre para pagar o aluguel, mas acredita que um
dia na vida vai ser patrão e esfregar na cara dos coleguinhas que alcançou o
sucesso. Geralmente, quem vislumbra pertencer a uma classe tende a concordar
com ela – até porque acha que com isso pode ganhar aliados entre os que já
chegaram lá. Assim, mesmo que seja um assalariado pouco qualificado, ele vai
apoiar o partido que tira direitos dos trabalhadores, pois estará agindo como
se fizesse parte da classe dos patrões. Pode ser que ele nem entenda os
argumentos a respeito de incentivos fiscais, mas o fato de que o cara de terno
e gravata o escreveu faz com que ele lhe dê crédito, mesmo que o trabalho dele
mesmo vá ser prejudicado com isso.
3.
Pressão
social. “Nooooosssa!!! Fulano vai votar em tal partiiiiido!!!! Não acrediiiiito!!!
Como ele é ignoraaaante!!!” – risos. Geralmente, quem fala não faz a mínima
ideia dos impactos das medidas socioeconômicas que o tal partido implanta, mas
aprendeu que falar mal dele é uma moeda de status, e reproduz. Se alguém está
em uma roda dominada por essas pessoas, se sentirá acuado e não expressará
opinião contrária, pois convenhamos, não há argumento pró-partido X que salve a
amizade com quem fala “Quem vota no partido X é ridíííííículo!”. E as pessoas
são carentes. Como julgar que elas queiram manter amizade com pessoas idiotas?
Cada um sabe dos próprios motivos para querer ser amigo de quem não te permite
pensar.
Por fim, acho que todos
temos um pouquinho de sentimento envolvido no nosso posicionamento político. E,
de verdade, eu respeito quem tem um sentimento por um partido de que eu não
gosto, desde que fundamentado. No entanto, quando esse sentimento é fruto de
preconceito, identidade de classe ou pressão social, sinto muito amigo.
Ridííííííículo é você.
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