Desde que decidi me dedicar à
escrita fiquei com o olhar mais atento ao modo como as pessoas reagem a textos,
à linguagem usada, aos seus elementos e formas. Comecei a postar textos com
linguagens diferentes em diferentes meios e observar a reação das pessoas que
liam. Com isso, aprendo sobre o que chama a atenção, o que interessa e o que
perde leitores.
Tem um aprendizado, no
entanto, que eu notei que precisa ser compartilhado, muito mais do que utilizado:
um sem-número de pessoas adora textos que corroboram a própria visão de mundo,
mesmo que não sejam verdade.
Pessoas geralmente
superatentas a detalhes lógicos e à veracidade das informações acabam passando
por cima de qualquer cuidado quando a publicação em questão reforça o que elas
pensam. Conscientemente ou não, adotam uma postura dupla: se discordam da ideia
central de um texto, dissecam, analisam, problematizam e apontam até erros de
português do autor. Se concordam com o argumento central, ignoram falácias,
maus argumentos e deixam passar até mesmo informação falsa.
Já vi gente que em uma linha
pede para não generalizarem as críticas aos seus correligionários, e na linha
seguinte afirma que “os jornais estão dizendo” algo que leu em uma revista
tendenciosa. Muitos gostam de brincar com números: se um grupo fez uma
manifestação de que a pessoa discorda, ela seleciona as contagens de institutos
de pesquisa que mostraram menor participação. Se a manifestação foi por algo de
que ela gosta, ela acusa o mesmo instituto de pesquisa de vendido, manipulado,
mentiroso ou o que for para desacreditar a sua contagem.
Para não dizer que isso é
coisa de gente incauta, lembro de um episódio emblemático na faculdade em que
eu estudava. No último ano do curso eu já não estava tão empolgada, nem com
tanto tempo disponível para ler tudo o que era obrigatório para o
acompanhamento das disciplinas. Assistia às aulas e lia parte da bibliografia.
Um dia, chegou a prova de uma disciplina de Ciência Política, área bastante
objetiva, mas que também conta com partidários de correntes e ideologias nas
cátedras. A prova envolvia teorias de dez autores que deveríamos ter lido até o
momento. Eu havia lido seis. Pouco antes da prova começar, no entanto, um amigo
me disse qual era a tendência política da professora: qual era a linha de
pensamento que ela aplaudia e que questões ela considerava importantes dentro
daquele tema.
Como muitas, era uma prova
dissertativa, com bastante espaço para argumentação. No entanto, era necessário
conhecer as teorias para argumentar propriamente. Argumentei com as que eu
tinha, enrolei vergonhosamente sobre as que eu não dominava e incluí argumentos
que eu confiava – pelo que disse o colega – serem do gosto da professora. Foi
uma manobra desonesta, a minha parte de pequena corrupção, mas com a qual, no entanto,
eu aprendi mais um pouco sobre o pensamento, o discurso e as relações humanas.
Mais do que eu esperava, eu tirei dez na referida prova, com destaque e
comentários a quê? À defesa do que lhe era caro, não ao conhecimento da teoria,
que era incompleto.
Incorporando um pouco mais a
cada dia o papel de escritora, eu me sinto no dever de recusar a utilização
desse tipo de recurso e emburrecer ainda mais a rede de informações
instantâneas que é a internet, porque as coisas se espalham rápido demais para
serem bem analisadas, especialmente se reforçar o que pensam os mais
idiotas. Assim, compartilho a percepção
que tenho na esperança de multiplicar reflexões e pedir que pense,
especialmente quando você gosta de um texto, se ele realmente é um texto honesto
ou se merece crítica, apesar do tanto que você possa gostar de ver suas ideias defendidas
nele. Ficar atento às falhas somente do que discordamos é fácil e desonesto.
Olá, Luciana.
ResponderExcluirNo tecer da vida, o que conta, é o aprendizado que tiramos das reflexões, que fazemos silenciosamente.
Um abraço.