Em um casal,
a discussão sobre ter filhos faz todo sentido. Quando as pessoas envolvidas na
discussão são as que terão que cuidar da criança, não há dúvidas da sua
utilidade. Mas a discussão sobre tê-los ou não tê-los costuma ultrapassar as
fronteiras de quem tem qualquer interesse nisso. Vizinhos, colegas, parentes
distantes, apresentadores de TV, jornalistas – em todo lugar existem teorias
sobre se “as pessoas” devem ou não ter filhos.
A humanidade
chegou a um ponto em que temos pessoas suficientes para não ameaçar a
existência da espécie. Alguns dizem, aliás, que o excesso é o que ameaça. Caso
as pessoas queiram se reproduzir, no entanto, também há lugar. As novas
gerações também podem trabalhar e desenvolver coisas boas para o planeta. A
questão é: não somos uma pequena comunidade de pessoas discutindo a preservação
da espécie por meio de ter ou não ter filhos. É possível deixar que cada um
decida por si só.
Ainda assim,
o mundo insiste em querer decidir pelas pessoas, e se estende para outras
questões igualmente irritantes: como as mulheres devem se comportar, como os
religiosos devem viver sua fé, quais devem ser suas relações sexuais. São
muitos exemplos de um fenômeno que faz parte da nossa sociedade, por mais
desnecessário que seja: regular a vida privada alheia.
Sobre o que é
domínio público, como a gestão do sistema de transporte e a manutenção da
cidade, poucos se interessam; mas falar sobre o que o vizinho tem que fazer
dentro da casa dele tira o sono. E mesmo que a pessoa nunca tenha levantado uma
pedra para melhorar o bairro, ela sempre vai achar justificativas coletivas
para o seu esforço em se meter na intimidade alheia.
Quem vai ter
filhos ou não eu não sei – isso é uma decisão privada. Mas é urgente que se
cultive publicamente a consciência do que é público ou privado, o respeito a
escolhas individuais e a participação pública pela melhoria da sociedade. A
próxima etapa na evolução da sociedade brasileira é deixar de ser uma nação de
intrometidos para ser uma nação garantidora de direitos.
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