06/07/2018

Público x privado ou Por que as pessoas discutem sobre ter filhos?


Em um casal, a discussão sobre ter filhos faz todo sentido. Quando as pessoas envolvidas na discussão são as que terão que cuidar da criança, não há dúvidas da sua utilidade. Mas a discussão sobre tê-los ou não tê-los costuma ultrapassar as fronteiras de quem tem qualquer interesse nisso. Vizinhos, colegas, parentes distantes, apresentadores de TV, jornalistas – em todo lugar existem teorias sobre se “as pessoas” devem ou não ter filhos.
A humanidade chegou a um ponto em que temos pessoas suficientes para não ameaçar a existência da espécie. Alguns dizem, aliás, que o excesso é o que ameaça. Caso as pessoas queiram se reproduzir, no entanto, também há lugar. As novas gerações também podem trabalhar e desenvolver coisas boas para o planeta. A questão é: não somos uma pequena comunidade de pessoas discutindo a preservação da espécie por meio de ter ou não ter filhos. É possível deixar que cada um decida por si só.
Ainda assim, o mundo insiste em querer decidir pelas pessoas, e se estende para outras questões igualmente irritantes: como as mulheres devem se comportar, como os religiosos devem viver sua fé, quais devem ser suas relações sexuais. São muitos exemplos de um fenômeno que faz parte da nossa sociedade, por mais desnecessário que seja: regular a vida privada alheia.
Sobre o que é domínio público, como a gestão do sistema de transporte e a manutenção da cidade, poucos se interessam; mas falar sobre o que o vizinho tem que fazer dentro da casa dele tira o sono. E mesmo que a pessoa nunca tenha levantado uma pedra para melhorar o bairro, ela sempre vai achar justificativas coletivas para o seu esforço em se meter na intimidade alheia.
Quem vai ter filhos ou não eu não sei – isso é uma decisão privada. Mas é urgente que se cultive publicamente a consciência do que é público ou privado, o respeito a escolhas individuais e a participação pública pela melhoria da sociedade. A próxima etapa na evolução da sociedade brasileira é deixar de ser uma nação de intrometidos para ser uma nação garantidora de direitos.

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