Quando a gente
é o que o status quo pede que sejamos, por conformação ou por coincidência, a
discriminação passa muitas vezes despercebida. Escolher feminino ou masculino
em uma lista não é um problema para quem se identifica com o gênero biológico;
escolher a cidade em que se nasceu em uma lista fechada não é problema para
quem nasceu no único país considerado no formulário; dar o endereço em uma
ficha de inscrição não é problema pra quem tem um contrato assinado que lhe
garante moradia.
Empatia é a
capacidade de perceber os problemas que esse tipo de limite pode causar. Ser “cidadão
de bem” é ser capaz de perceber que existem pessoas que não se encaixam em
classificações fechadas e sofrem com isso; é ser capaz de conceber um sistema
mais inclusivo em vez de ficar chorando na internet que o politicamente correto
fere o modelo a que você se acomodou.
Será que todo
formulário precisa ter gênero? Será que uma lista de cidades não pode incluir
“cidades de outro país” como uma opção? Será que o endereço indicado não pode
ser um e-mail, nessa era em que quase todo documento pode ser virtual?
Os mais
resistentes acharão as circunstâncias particulares a dar como exemplo para opor
à argumentação. “Ah, mas no caso de exame de câncer de mama...” “Ah, mas se
precisar enviar algo por correio”. O “e se” é um indicativo de hipótese. As
pessoas que têm empatia para pensar no outro obviamente terão capacidade de
pensar em situações particulares e entendê-las. Será que o inverso é
verdadeiro? Quem tem criatividade para ficar pincelando situações que
justifiquem a exclusão terá capacidade de se colocar no lugar de quem está
sendo excluído e ajudar a pensar em sistemas mais completos?
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