15/08/2017

Verdades antigas

A publicação do meu primeiro livro demorou muito. Todo o processo de revisão, diagramação, capa, registro e demais burocracias levou quase um ano. E no momento de publicar meu livro eu já não tinha certeza de que queria fazê-lo. Minhas ideias haviam mudado e eu já não gostava muito dele.
Nessa hora, um bom amigo me disse uma coisa que eu sinto ser necessário lembrar às vezes: não é porque ficou velho pra você que não vai ser bom pra outras pessoas. Ele disse isso porque um texto em particular, contido nesse livro, mudou um ponto de vista dele. Concordei, publiquei, divulguei e com o tempo também enterrei. Apesar de estar sempre à venda, não é algo de que eu faça propaganda.
Enfim, o ponto aqui não é o livro. É a ideia: na vida de quem se interessa por conhecimento existem muitos livros, muitas teorias, muitos pontos de vista. Às vezes você vai de um extremo a outro porque estudou um pouco mais sobre um assunto. E não raro eu vejo gente que por já ter passado por essa mudança, desrespeita o momento do outro. Não raro eu vejo gente que, porque questionou uma determinada teoria, passa a chamar de burros todos os que ainda estão no processo de conhecê-la.
Não existe uma verdade final no conhecimento científico. A ciência é humilde: ela admite sua falibilidade. Ela aceita que uma teoria defendida a duras penas seja substituída por outra diante de evidências novas. E mesmo assim, encontramos no meio científico pessoas que se comportam como se fossem líderes religiosos defendendo a sua verdade do momento como se fosse a última.
Eu admiro a ciência, a filosofia e o conhecimento, mas há algo a respeito de muita gente que está imersa nesse mundo que afasta as pessoas: arrogância. E não é a arrogância de acreditar no método científico sobre o sobrenatural; isso é um posicionamento. É a arrogância de, a partir do momento em que entra em contato com uma nova verdade, passar a humilhar e desencorajar o pensamento de pessoas que estão flertando com outra.
Quantas vezes não foi necessário voltar a uma teoria anteriormente abandonada? Quantos livros é necessário ler para ter certeza de qualquer coisa?
Por isso, àqueles que amam a ciência, convido a refletirem também sobre a beleza de cada estágio que a constitui. A beleza de desenvolver uma teoria para depois destruí-la. A beleza de permitir-se avaliar diferentes pensamentos. A beleza de não ser dono da verdade, posição que não é reclamada nem pela própria ciência. 
Eu não gosto do meu primeiro livro. Mas o respeito. Eu não sou mais religiosa, mas já fui e entendo como é ser. Eu já tive posicionamentos políticos diferentes, com relação a problemáticas diferentes. Não é aos meus trinta e poucos anos que eu vou subir num pedestal e dizer que eu alcancei o ápice da sabedoria sobre aqueles que se posicionam de outra forma. E desconfio que não será assim nem com cinquenta, nem com oitenta anos.

A verdade que eu defendo hoje pode ficar velha daqui a pouco. Isso não vai me impedir de defendê-la, até porque geralmente é necessário fazê-lo pra aprender. Mas eu nunca vou chamar de burro quem, a partir do seu próprio caminho de conhecimento, pensar diferente de mim.

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