A
publicação do meu primeiro livro demorou muito. Todo o processo de revisão,
diagramação, capa, registro e demais burocracias levou quase um ano. E no
momento de publicar meu livro eu já não tinha certeza de que queria fazê-lo.
Minhas ideias haviam mudado e eu já não gostava muito dele.
Nessa hora,
um bom amigo me disse uma coisa que eu sinto ser necessário lembrar às vezes:
não é porque ficou velho pra você que não vai ser bom pra outras pessoas. Ele
disse isso porque um texto em particular, contido nesse livro, mudou um ponto
de vista dele. Concordei, publiquei, divulguei e com o tempo também enterrei.
Apesar de estar sempre à venda, não é algo de que eu faça propaganda.
Enfim, o
ponto aqui não é o livro. É a ideia: na vida de quem se interessa por
conhecimento existem muitos livros, muitas teorias, muitos pontos de vista. Às
vezes você vai de um extremo a outro porque estudou um pouco mais sobre um
assunto. E não raro eu vejo gente que por já ter passado por essa mudança,
desrespeita o momento do outro. Não raro eu vejo gente que, porque questionou
uma determinada teoria, passa a chamar de burros todos os que ainda estão no
processo de conhecê-la.
Não existe
uma verdade final no conhecimento científico. A ciência é humilde: ela admite
sua falibilidade. Ela aceita que uma teoria defendida a duras penas seja
substituída por outra diante de evidências novas. E mesmo assim, encontramos no
meio científico pessoas que se comportam como se fossem líderes religiosos
defendendo a sua verdade do momento como se fosse a última.
Eu admiro a
ciência, a filosofia e o conhecimento, mas há algo a respeito de muita gente
que está imersa nesse mundo que afasta as pessoas: arrogância. E não é a
arrogância de acreditar no método científico sobre o sobrenatural; isso é um
posicionamento. É a arrogância de, a partir do momento em que entra em contato
com uma nova verdade, passar a humilhar e desencorajar o pensamento de pessoas
que estão flertando com outra.
Quantas
vezes não foi necessário voltar a uma teoria anteriormente abandonada? Quantos
livros é necessário ler para ter certeza de qualquer coisa?
Por isso,
àqueles que amam a ciência, convido a refletirem também sobre a beleza de cada
estágio que a constitui. A beleza de desenvolver uma teoria para depois
destruí-la. A beleza de permitir-se avaliar diferentes pensamentos. A beleza de
não ser dono da verdade, posição que não é reclamada nem pela própria
ciência.
Eu não
gosto do meu primeiro livro. Mas o respeito. Eu não sou mais religiosa, mas já
fui e entendo como é ser. Eu já tive posicionamentos políticos diferentes, com
relação a problemáticas diferentes. Não é aos meus trinta e poucos anos que eu
vou subir num pedestal e dizer que eu alcancei o ápice da sabedoria sobre
aqueles que se posicionam de outra forma. E desconfio que não será assim nem
com cinquenta, nem com oitenta anos.
A verdade
que eu defendo hoje pode ficar velha daqui a pouco. Isso não vai me impedir de
defendê-la, até porque geralmente é necessário fazê-lo pra aprender. Mas eu
nunca vou chamar de burro quem, a partir do seu próprio caminho de
conhecimento, pensar diferente de mim.
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