Domingo à tarde. Minha mente vagueia enquanto viajo pelo metrô
rumo a um curso que me meti a fazer de sábado. Mal humor matutino me acompanha,
duelando com o ótimo livro que tenho em mãos – A Genealogia da Moral.
Noto algo diferente no ambiente, ao levantar os olhos sobre
o livro, mas prefiro ignorar – meu mal humor não é favorável a uma reação
adequada. Não posso, estou curiosa demais. Fecho o livro, como quem refletirá
por mais um trecho e olho ao redor. Um padrão. Camisas xadrez por cima das
blusas justas, shorts jeans e cabelos estrategicamente rebeldes, mecha por
mecha.
Acompanhando a multidão que caminha na baldeação para a linha
amarela, tenho a clara impressão de que as vitrines da C&A saíram pela
cidade, em um protesto de liberdade. Cansadas de só alimentar sonhos de consumo decidiram passear, arriscando manchar sua superfície imaculada e simetrias comerciais.
O que acontece? Ah... Acho que é um show no Jóquei Clube. Sim,
parecem estar fazendo o caminho de lá. Conforme vou chegando à estação Butantã,
vão ficando mais numerosos, suas falas se misturando e fazendo com que eu
pareça estar em outro mundo com outras referências, outros problemas
(problemas?) outras dimensões...
Começo a me sentir sufocada pela opressão dos
filhos adolescentes de classe média-alta, com que não estou acostumada a cruzar.
Seus pais, mesmo carregando a mesma profundidade de pensamento, são em geral
mais cautelosos em mostrar ao mundo o quanto se apegam à própria imagem, o
quanto se importam com relações melindrosas, o quanto sofrem com problemas menores. Os jovens não têm problema em mostrar. Sua juventude lhes dá autoridade para expressarem livremente o seu pensar, que será relevado pela sua bela aparência e invejada vitalidade.
Desvio das escadas rolantes e me
apresso nos degraus – intermináveis – para enfim! Liberdade! Saio da orla de
novos rebeldes e começo a me deparar com gente, digamos, mais cotidiana, com
suas roupas não combinadas, suas olheiras e preocupações, misturadas agora a uma
curiosidade particular (e coletiva) sobre o que acontece naquele pedaço da
cidade. Juro que senti ter visto uma etiqueta saindo do pescoço de algum deles
com os dizeres “atitude inclusa”.
hahaha, muito bom. me sinto um pouco assim andando pela região da augusta.
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