25/10/2009

Delicadeza

"O capitalismo é o senhor do tempo. Mas tempo não é dinheiro.
Isto é uma monstruosidade. O tempo é o tecido de nossas vidas.”
Antonio Candido

(...)

Somos indelicados com o tempo: desde o início da era industrial, o homem vem esgarçando esse frágil e precioso tecido da existência. Por isso, a delicadeza é uma conquista, um valor ético, um parâmetro estético.(...) A brutalidade que fazemos com o tempo, o tecido de nossas vidas, consiste em transformá-lo em matéria rentável. A vida não é um investimento seguro no mercado de futuros.


Maria Rita Kehl - delicadeza
Ciclo de conferências Mutações –A Condição Humana

61 comentários:

  1. Olá Lu! (Aqui é o "callado" do Stoa :)

    Creio que seja indefensável a idéia de transformar o tempo em matéria rentável.

    Entretanto, me parece aceitável administrar com certa brutalidade o tempo, desde que os "nacos" de tempo que assim criamos sejam utilizados de maneira ética ou estética.

    Ainda que as citações se refiram especificamente à monetarização do tempo, fiquei com a impressão que talvez isso seja secundário, e que a crítica é à instrumentalização do tempo, em geral.

    Nesse caso, sinto-me indevidamente criticado. Concordo que brutalizar o tempo é indesejável, mas eu pessoalmente faço isso para controlar minhas atividades, para não fazer muito de uma coisa em detrimento do investimento temporal que eu deveria fazer em várias outras. E dessas coisas que faço apenas algumas são relacionadas diretamente a dinheiro.

    Conclusão: instrumentalizar o tempo é um mal menor, comparado à minha propensão a gastar todo o meu tempo na minha 'obsessão do momento'.

    Da minha maneira de ver as coisas, instrumentalizar o tempo é minha maneira de cultivar vários interesses intelectuais, um pouco cada, todos os dias.

    Que achas disso? O problema é instrumentalizar o tempo ou o problema é fazer isso para ganhar dinheiro?

    Beijos!
    Renato.

    ResponderExcluir
  2. Olá!

    Interessante o estranhamento com a própria língua agora. Espero que minhas experiências de tradução não tenham sido razão para se espantar para cá!

    (indefensável a idéia de transformar o tempo em matéria rentável) Pode parecer, mas já me deparei com alguns momentos e pessoas que fazem disso realidade.

    (administrar com certa brutalidade o tempo, de maneira ética ou estética) Qual a brutalidade disso se neste caso continua sendo respeitada a natureza de “tecido da vida”? A vida inclui nossas escolhas e nossa inteligência, inclusive em administrar o tempo.
    Creio que a afirmação seja um alerta contra uma tendência de nos afogarmos na vida financeira, tornando o capitalismo mais detentor de nossos passos do que ele é intrinsecamente. Aliás, administrar o tempo com consciência, a meu ver, vai na contramão de entregar-se ao que o espírito coletivo recomenda como idela (usar todo o tempo em receitas de carreira e desenvolvimento profissional, sempre em prol do aspecto financeiro da vida) - a Ideologia de que Marx fala.

    (Nesse caso, sinto-me indevidamente criticado)
    Não acho que a crítica se aplica ao que descreveu.

    (Conclusão)“Obsessão do momento” me surpreendeu, dada a afirmação anterior de ser uma pessoa permanente. De qualquer forma, tenho ressalvas. Não serão “obsessões do momento” forças motrizes de empreendimentos relevantes?

    Creio que tenha respondido às perguntas finais...

    Beijos!
    Lu

    ResponderExcluir
  3. Olá Lu! Bom dia!

    "se espantar" -> "te espantar" ;)

    E não! Pelo contrário, quero convesar em português com você pois um idioma é tanto uma ferramenta quando um espaço, e uma montanha em inglês pode valer uma pedrinha de português, e vice-versa.

    (Brutalidade) Me parece que o texto poderia ser interpretado no sentido de que a brutalidade está em administrar o tempo mecanicamente, independentemente do uso que se faz do tempo.

    Nesse caso, eu creio que a questão é estética, e defendo a opinião de que é válido sacrificar a estética para obter maior eficiência ao usar o tempo de maneira ética.

    Mas se a questão é ética, e se resume no uso do tempo como dinheiro, então concordo que esse uso é criticável, caso ultrapasse a medida do que é necessário para uma pessoa viver sem extravagâncias.

    Entretanto, se o problema é ético, do uso do tempo, que diferença faz se isso se dá ao parcelar o tempo ou não? Praticamente nenhuma. De modo que me parece que a questão fundamental (para a autora) não é o uso monetário do tempo, mas sim sua parcelização.

    Ora, mas tal parcelização é inevitável hoje em dia. Mesmo para altruistas. Ergo, sinto-me indevidamente criticado.

    Ainda que seja algo da minha vida pessoal (http="http://stoa.usp.br/luciana/weblog/62253.html), eu procuro dividir meu tempo o melhor possível, para fazer o máximo possível, dentro de meus limites éticos e estéticos. A continuidade do tempo é algo que eu em geral estou disposto a sacrificar.

    Mas procuro compensar isso, criando recursividades (momentos hiperdensos em temporalidade) sempre que posso ;)

    (Conclusão) Eu sou permanente em certas coisas, e não em outras (felizmente!) com relação ao meu amor ao conhecimento, sou permanente.

    Mas tenho responsabilidades que preciso cumprir: trabalho, mestrado, graduação. E a melhor maneira é investindo uma certa parcela do meu tempo, todo dia. Se eu simplesmente desencanasse de mudar de assunto, iria perseguir minha "obsessão do momento" até o fim - ou seja, apenas trabalharia, pesquisaria ou estudaria, ignorando minhas outras obsessões.

    De modo que sim, minha obsessividade me move, mas eu preciso ter nas mãos as rédeas, para que além de mover, eu também me dirija aos meus objetivos!

    Como isso se dá através do tempo, talvez eu deva dizer que devo ter as rédeas no pulso (por causa do relógio)!

    Lu, espero que eu sempre possa te causar algum estranhamento... Mas espero que você deixe de pensar em mim como alguém "gringo like" ;)

    Beijos, e um excelente dia!
    Renato.

    ResponderExcluir
  4. Olá!

    Discordo... Para usar “te” teria que mudar a estrutura da frase. Poderia ser “não tenham te espantado.”

    (Brutalidade) Uso do tempo como dinheiro? Isso é administração do tempo, não? Afinal usamos dinheiro para obter bens – fim utilitário. Podemos ter um fim utilitário no tempo também.

    Apesar de ser tentador questionar a medida do necessário para uma vida sem extravagância, concordo, se pensarmos em evitar os extremos em direção a um equilíbrio coletivo.

    (parcelamento) O que o leva a crer que ela foca em parcelar o tempo?
    Você mesmo percebeu que isso não faz diferença em uma perspectiva ética.
    Não vejo como uma coisa se conclui da outra.

    Ainda não vejo ligação entre a crítica da autora e o uso racional do tempo, que é diferente de viver e pregar o uso da vida em prol única e exclusivamente da reprodução de riquezas (dá para entender esse espírito a partir de Weber – A ética protestante e o espírito do capitalismo). Assim, ainda acho que a crítica não se aplica ao que descreveu do seu uso do tempo, apesar de você insistir estar sendo criticado! ;)

    Momentos hiperdensos... Isso também dá poesia. :)

    (Conclusão) Quem disse que eu penso em você como “gringo like”?

    Beijos, e excelentes dias!
    Lu

    ResponderExcluir
  5. Olá Lu! Bom dia!

    (Gramática) "Espero que minhas experiências de tradução não tenham sido razão para te espantar para cá!" me parece correto e usual, enquanto que com "se", me parece correto e não-usual.

    Como sou peixe de águas rasas, prefiro "te". ;)

    (Brutalidade) Lu, o que estou querendo dizer é o seguinte: se a crítica é contra o parcelamento do tempo, é uma crítica fadada ao fracasso. Se a crítica é contra a obsessão com dinheiro, porque criticar um sintoma (parcelamento do tempo) se o foco é a doença (consumismo)?

    (Hiperdensidade) Uma das melhores partes da matemática é compartilhar com muitas pessoas uma maneira de falar sobre gráficos, curvas, distribuições visuais da informação...

    Uma das piores partes é que o que se fala usando esse jargão se torna obscuro para não-iniciados!

    Creio que são duas faces de Janus...

    (Conclusão) Uma vez que estou nessa feliz curiosidade de não saber o que você pensa de mim, eu fico imaginando coisas... Qualquer detalhe, sugestão "entre as linhas" e eu penso "Aha! Então é isso que ela pensa..." :)

    Beijos!
    Renato.

    ResponderExcluir
  6. Olá Renato!

    (Gramática) Gosto de sair do usual de vez em quando ;)

    (parcelamento) aí é que está.. não vejo essa crítica ao parcelamento do tempo.

    (matemática) mudar de foco não significa que não enxergamos o foco inicial, apesar de ser um ótimo caminho de fuga de assuntos nos quais não somos iniciados.

    (Conclusão) Já que a curiosidade é feliz, quem sou eu para matá-la?

    Beijos
    Lu

    ResponderExcluir
  7. Olá Lu!

    (Parcelamento) Talvez um exemplo concreto ajude. Durante épocas "normais", eu tenho algum tempo que preciso dedicar ao cumprimento de minhas responsabilidades, e que é inegociável (por exemplo, aulas).

    Mas parte do meu tempo eu devo organizar como achar melhor, e a maneira como faço isso é parcelando o tempo, de maneira mecânica e sem respeitar a continuidade mental e emocional da atividade que estou fazendo.

    Por exemplo, se eu tenho três horas para estudar, eu vou provavelmente escolher estudar uma hora de chinês, uma hora de física e uma hora de matemática.

    Mas ocorre muito frequentemente que tenho que parar no meio de um exercício, ou no meio de uma leitura, ou algo assim, e mesmo que eu deseje continuar o estudo, eu mecanicamente fragmento o tempo para ter uma parcela para a atividade seguinte.

    De modo que eu não apenas parcelo o tempo, como eu faço quase todo dia, e várias vezes ao dia.

    De modo que eu não vivo mais em um "tecido contínuo de temporalidade", eu vivo sim num reticulado temporal, em que "cada minuto conta".

    A única diferença entre a maneira como eu vivo e como uma money-driven person vive é que eles fazem isso com a mão no bolso, e eu faço isso com os olhos nos livros.

    Mas eu não vivo mais na temporalidade contínua, e para horror da autora eu posso tranquilamente parar de ler um poema no meio para ir lavar a louça!

    Ok, esse último parágrafo foi uma hipérbole :D Mas o que eu quero sublinhar é que minha vivência temporal é muito mais próxima da de um estressado operador da bolsa do que da de um sereno psicólogo. Por isso me sinto atingido pela crítica da autora: eu compartilho essa aspecto da vivência com os consumistas.

    Repito: se ela quer criticar o consumismo, muito bem! Mas se quer criticar o consumismo vinculando-o à opção de parcelar o tempo, então eu me oponho, pois ela está jogando fora o bebê com a água do banho!

    Desculpe se isso parece um exagero da minha parte. Mas (exagerando) o que a autora propõe é que não se deve usar martelos pois eles podem ser usados como armas! Eu, como bom pedreiro, digo "Alto lá minha senhora! Este martelo é para construir casas..."

    (Matemática) Hehehe... Creio que nós dois ficamos desfocados neste quesito :)

    Mas ao invés de dizer "É uma cobra!" ou "É uma árvore!", nós dois dizemos "Cadê os meus óculos?!"

    Beijo!
    Renato.

    ResponderExcluir
  8. Olá Renato!

    (Parcelamento) Eu entendi a sua idéia.
    Apenas -e ainda -discordo que a autora quis criticar isso. Podemos fazer essa interpretação se entendermos que ela lê como “vida” a atitude de se entregar a sabores do momento, ao invés de planejar. Acho que aqui vamos ficar discutindo eternamente se ela quis ou não quis dizer isso, dado que não a temos aqui para dirimir essa dúvida!

    A minha impressão, em particular, ao divulgar a idéia, era a crítica à monetarização do tempo.

    Quanto à divisão do tempo, acho admirável dividi-lo de acordo com prioridades. Aliás, é linda a ideia de que todas as pessoas possam administrar um bom filão de seu tempo de modo produtivo (no sentido mais amplo de produção).

    O que vejo, muitas vezes, são pessoas cuja maior parte da energia é gasta em prol do lucro alheio, e no pouco tempo que lhes resta, tentam recuperar-se do desgaste em entretenimento barato, alienar-se da problemática da própria situação em que se encontram ou, ainda, apagar incêndios que sempre reacendem por falta de atenção.

    No nosso contexto, quanto melhor a condição material, mais as pessoas têm condições de escolher como gastar seu tempo. E essas escolhas podem estar em diversos pontos de uma escala em que eu colocaria o hedonismo em uma ponta e a racionalização do tempo em outra. Essa racionalização pode incluir momentos de descontração, que serviriam ao propósito de manter algum equilíbrio psicológico, sem chegar perto da atitude de um hedonista.

    O que mais me incomoda na monetarização da vida – das estratégias, do uso do tempo, das relações, das escolhas, dos valores, etc – é que isso fortalece a lógica capitalista, que faz com que cada vez menos as pessoas tenham liberdade de escolher como, em nome de quê e com que prioridades usar seu tempo.
    Nesse cenário, não é questão de ser hedonista ou racional, é questão de nem parar para pensar nisso, pois o sistema exige que toda a sua energia seja usada para a sua manutenção.

    (Matemática) e sempre haverá uma razão perfeitamente lógica para isso.

    Beijos
    Lu

    ResponderExcluir
  9. Olá Lu! Bom dia!!!

    Muito difícil discordar do que você escreveu. Eu teria que ficar procurando pêlo em ovo, o que não farei.

    Talvez apenas complementaria que muitas pessoas que gastam seu tempo livre em entretenimento e alienação o fazem não tanto por não acreditarem que a leitura seria melhor, mas sim porque querem fazer parte da conversa do dia seguinte no escritório, que vai girar em torno da novela, ou da discussão no boteco, em torno do jogo, enfim, não querem pagar o preço da alienação social que advém de não se sujeitar à alienação cultural.

    Enfim, fogem da frigideira para cair no fogo...

    (Matemática) Talvez eu já tenha te dito que eu não compartilho de uma característica comum dos colegas da física, que é a de estudarem física porque acham o assunto "belo".

    Mas estou longe de não sentir os seus encantos... De modo que para mim a razão pode ser perfeitamente estética. :)

    Beijos,
    Renato.

    ResponderExcluir
  10. Bom dia!

    (alienação social x alienação cultural) Fato. Dependendo do meio em que você está, será sempre um peixe fora d’água. Mas acho que aqui cabe uma questão: não é possível colocar a importância de uma mudança de atitude nesses meios (que valorizam muito a alienação cultural)? Não vejo lugar em que as pessoas neguem a importância da cultura. Acho que falta fazer um link entre essa importância e a mudança de atitude cotidiana.

    (Matemática) A beleza é algo que também aprendemos a ver. Se algo se apresenta coerente com o que acreditamos, pode ser muito mais belo do que a combinação de cores e contornos que caracteriza a beleza comum.

    Beijos
    Lu

    ResponderExcluir
  11. Boa noite Lu!!!

    (alienação) Hmmm... Seria excelente se isso puder ser feito. Talvez a chave seja não nos focarmos na leitura, mas sim em aprofundar seja qual for o filão cultural que a pessoa admira especificamente.

    Ou seja, se se trata de alguém que gosta muito de comida caseira, cultivar a tradição culinária, as histórias por trás dos pratos, das receitas... Aos poucos, contextualizar que certos pratos têm certas características devido a certos quesitos históricos (por exemplo, a feijoada era feita com as sobras do porco que o senhor de escravos não queria).

    Se o interesse for samba, conversar sobre as letras, ouvir Noel, conversar sobre a vida do Cartola. É possível falar de samba sem falar dos lugares de onde veio o samba, sem falar da época em que o samba surgiu?

    Enfim... Eu creio que por um lado, o lado bom, esse link pode ser feito sempre, com qualquer coisa, pois é apenas uma questão de aprofundar a relação que toda pessoa tem com a cultura de sua época e lugar.

    Pelo lado ruim, é algo que é quase impossível de fazer coletivamente, pois os interesses, as preferências, são muito individuais, e a maneira de apresentar uma idéia, de complexificar um assunto, têm que ser feitos na dose exata para uma pessoa - pois é a dose que distingue o remédio do veneno.

    (Matemática) Se a beleza pode ser aprendida, então podemos aprender a apreciar a beleza da engenharia dos rifles automáticos? Ou a beleza das sutilezas financeiras da lucratividade máxima?

    Sim, podemos - e portanto ser ético significa sim escolher para quais tipos de beleza seremos cegos.

    Beijos,
    Renato.

    ResponderExcluir
  12. Boa noite Renato!

    (alienação) O link de que falo é mais de ação do que de conhecimento (sem negar a importância deste para aquela). Fazer com que as pessoas entendam onde podem atuar, como e os prováveis efeitos disso.

    Dá até pra atingir coletivos, através da comunicação de massa. Mas qual é a cara que isso tem? Prato pronto, com passado, presente e futuro escritos e fechados a questionamento ou intervenção. Conhecimento- mercadoria.

    Essa “cultura” faz o quê senão iludir as pessoas a respeito da própria consciência? É no momento que começamos a questionar e pensar em como fazer história, além de conhecê-la, que começa a complicar. Sabemos que os meios de comunicação são especialistas em apresentar cultura como entretenimento pra ser assistido e esquecido facilmente. Não há compromisso.

    Mesmo quando o que é mostrado é revoltante, acaba-se no “não tem jeito mesmo”, “sempre foi assim”, “não são só os políticos, o povo também” – idéia de que qualquer tentativa de mudança é inútil, portanto pra quê tentar? Há uma enorme resistência a sair da zona de conforto, em sair do que já está dado como normal. Como discutimos antes, essa resistência pode ser porque as pessoas estão desgastadas demais ou apenas por ser mais cômodo, mesmo quando têm escolha.

    Não sei se a abordagem individual é questão de dose ou de entender o que motiva suficientemente cada pessoa a se mexer em nome de algo. Exemplo: tinha amigas que jamais se interessavam por política, mas se ressentiam muito de não poder acompanhar o crescimento dos filhos. Foi colocada em votação uma proposta que permitia às mães usarem um dia de trabalho por mês para serem voluntárias na creche dos filhos. Elas se interessaram muito e entraram no site da câmara pra manifestar apoio à proposta. É esse tipo de “link” de que falo – fazer as pessoas perceberem que podem fazer algo, mais do que ouvir e repetir opiniões prontas, como eternas espectadoras, vítimas, receptoras.

    Tem outra coisa que contribui para a não-ação: o excesso. A internet é um meio mais democrático do que a grande mídia, mas acaba sendo excessiva. Hoje eu leio mil e-mails falando da importância de mil assuntos, mas não tenho tempo nem disposição mental pra me aprofundar em metade deles, por mais importantes que sejam.
    Muita gente acaba não se aprofundando em nada mesmo. O botão “encaminhar” acaba sendo prêmio de consolação – não fiz nada de concreto a respeito, mas passei a bola pra que outro faça e eu me sinta também responsável pelo efeito que isso vai ter – pronto, consciência salva! Falta a educação pra fazer escolhas em que se focar e rejeitar – conscientemente – aquilo de que não damos conta.

    Eu sei que enquanto estou promovendo a causa cooperativista, por exemplo, estou negando minha atenção à questão da terra, da fome, da moradia, das drogas, da violência, do tráfico de pessoas e a tantas outras; mas sei que é uma limitação minha. Penso: de que adiantaria me envolver em tudo isso e não me dedicar efetivamente a nada?

    Acho que a apelação coletiva, tanto TV como internet, termina tendo esse aspecto: atinge superficialmente a muitos, sem conseguir envolvimento suficiente pra mudar muita coisa.
    Acho que me alonguei demais agora... sorry :D

    (Matemática) Concordo, mas acho que essa escolha só é possível quando já aprendemos uma visão alternativa. Aí entra a grande importância da educação infantil (no sentido mais amplo de educação). Essa é uma época em que as pessoas são mais suscetíveis a aprender o que lhes é ensinado sem muita oposição – pois não há opiniões formadas em contrário. Quando recebemos uma educação moral, podemos confrontá-la com novas informações que recebemos e decidir que lado tomar. Quando ela não existe, fica difícil se contrapor às vantagens apresentadas por qualquer um que chegue primeiro.

    Beijos. Até breve.

    Lu

    ResponderExcluir
  13. Olá Lu! Boa noite!

    (alienação) Você realmente escreveu muito, percebo que é um assunto ao qual você está apegada. Infelizmente estou de saída do serviço e não vou poder comentar muito.

    Acho que o ponto mais forte do que você escreveu é quando você diz que é necessário fazer as pessoas perceberem que podem fazer algo, além de reclamar (você já me disse isso várias vezes - mas eu não vou reclamar, vou fazer algo a respeito ;)

    O exemplo das suas amigas é bem interessante, pois ilustra o fato de que a motivação é algo universal - em geral todo mundo tem algum problema que precisa resolver através do governo, ou das leis.

    Mas o elo que me parece faltar é justamente fazer com que as pessoas que têm um problema específico fiquem sabendo das tentativas de resolver o problema que estejam "rolando".

    E isso é bem difícil, pois quando um projeto chega no ponto de poder pagar por divulgação, ele em geral já está incapaz de ser tão inovador quanto seria desejável.

    Vocês no seu trabalho enfrentam esse problema? Têm maneiras de tentar manter-se inovadores?

    (Matemática) Eu acho que poderia resumir sua proposta como sendo a de que devemos ensinar "afirmativamente", ou seja, moralmente, e que isso facilita a luta individual da pessoa contra as influências consumistas, egoístas e similares.

    Me parece um argumento bem forte, mas eu pessoalmente vejo que não há como prevernir as pessoas a se exporem às "más influências", e o "fruto proibido" em geral tem um sabor especial - o da quebra do "nome do pai".

    Por outro lado, a exposição precoce à variedade de propostas morais das nossas culturas humanas, e a enorme oferta de informações, que em geral conduzem a diferentes maneiras de valorizar os elementos à nossa volta, essas características de nossa vida moderna são indutoras da reflexão - pois vivemos no paradoxo, e em constante tensão devida à ação de forças ideológicas em competição.

    De modo que me parece que mais e mais é exigido das pessoas que façam escolhas - e isso as treinará nessa habilidade, e isso irá se decantar na cultura, catalisando o processo.

    Como você vê, eu tenho muita esperança na orgia ideológica em que vivemos :)

    Beijos!
    Renato.

    ResponderExcluir
  14. Olá!

    “quando um projeto chega no ponto de poder pagar por divulgação, ele em geral já está incapaz de ser tão inovador quanto seria desejável.”

    Que pensa de um projeto cujo objetivo fosse divulgar e articular projetos semelhantes (dado que existem muitos parecidos, sem força suficiente para manter-se)?

    A instituição em que trabalho tem duas “vertentes”: programas de longo prazo, cujo objetivo é formação e acaba abrindo espaço para inovações durante o curso; e programas de curto prazo, geralmente sob demanda, o que permite acompanhar tendências. Independente do caráter, pedimos avaliações de todos os envolvidos para que ao final analisemos o que foi sentido e cruzemos com nossos objetivos.

    (Matemática) Não penso em evitar que as pessoas se exponham a “más influências”, mas em dar-lhes escolha e promover a reflexão a respeito dos aspectos dessas escolhas.

    Temo que diante do excesso de escolhas comerciais acabemos por crer que todas as escolhas estão dadas, sem trabalhar o lado humano, social, etc.

    Beijos

    Luciana

    ResponderExcluir
  15. Olá Lu! Boa madrugada! :)

    (projeto) Creio que um projeto que, entre muitas aspas, "terceiriza" a divulgação, é uma maneira de colocar um intermediário entre os financiadores e as organizações, o que tem suas vantagens e desvantagens.

    Pelo lado bom, dificulta que um financiador específico possa pressionar demasiadamente uma organização. Pelo lado ruim, pode burocratizar/institucionalizar a organização.

    (matemática) Talvez o maior problema seja acreditar que as escolhas têm que ser óbvias. Isso pode ser fruto dessa abundância de valores comerciais, que estão "prontos para consumo": nada de reflexão, ou investimento que não seja monetário.

    Nesse contexto, propor que a base dos valores deve ser a crença constituída após a reflexão, é algo muito difícil de "vender" :) às pessoas, acostumadas a valores descartáveis e superficiais.

    Bom, chega de reclamar :) O que você quer dizer com "trabalhar o lado humano, social"? Eu creio que sei do que se trata, mas quero saber como você descreve isso com suas palavras.

    Beijos!
    Renato.

    ResponderExcluir
  16. Olá Renato!

    (projeto) creio que burocratização é um risco inclusive quando não se terceiriza. E acaba exigindo muita concentração no que não é foco de atuação.

    A terceirização é um processo delicado que não deve abrir mão do acompanhamento de quem contrata nem de critérios como qualidade do serviço (apenas pelo preço, por exemplo). É precisa afinação constante entre a instituição e quem realiza o trabalho terceirizado.

    (matemática) Você sabe do que se trata, sim. Nada muito fora do comum.

    Humano: experiências como trabalho em grupo, comunidade, construção de projetos de forma democrática (pelo menos com isso em vista), aprofundamento em questões de relacionamento humano e justiça social – que são incômodas – sem fugir diante da primeira dificuldade, que é opção fácil em um mundo cheio de opções comerciais.

    Por social pensei mais em questões ligadas à criação/ identificação de oportunidades de melhorar a qualidade de vida da população, especialmente com mais dificuldades; qualidade de vida englobando educação, saúde, transporte, moradia, emprego, liberdade de expressão, de opção sexual; enfim, diversos pontos importantes para combater a miséria social em vários campos.

    Beijos!
    Lu

    ResponderExcluir
  17. Olá Lu!

    (projeto) Você não acha que é inevitável burocratizar, no nosso país cheio de leis?

    (terceirização) Do jeito que você descreve a coisa, fica difícil saber se é melhor terceirizar ou fazer "eu mesmo". Se é preciso estar afinado com o terceirizado, e pode até custar mais caro, então porque terceirizar?

    (matemática) Eu perguntei porque queria te dar uma "deixa" para mencionar essas coisas essenciais aqui. É óbvio que você pensa muito a respeito desse assunto, e ainda assim é capaz de falar de maneira breve e objetiva sobre isso.

    Queria que você escrevesse mais detalhadamente a respeito o trabalho em grupo. Me parece que toda ação coletiva tem que começar por aí, um grupo pequeno que começa a fazer algo.

    Beijos,
    Renato.

    ResponderExcluir
  18. Olá!

    (projeto) A burocratização tem níveis saudáveis ou prejudiciais. Só que nem sempre quem a implanta tem noção disso.
    Não acho que as leis são o problema, mas o que leva à criação delas. Precisaríamos de leis se não houvesse gente querendo tirar vantagem, em prejuízo de outros?
    Minha experiência profissional sempre me levou do menos para o mais burocratizado na medida em que as pessoas tentam tirar vantagem de controles frouxos.
    Acabamos passando da confiança pra fiscalização, especialmente quando fazemos uso de dinheiro público.
    Infelizmente tem muita gente com discurso ético que mesmo em uma instituição que lida com dinheiro público não guia suas ações no sentido de usá-lo da forma mais ética. Fazendo uso capcioso da filosofia marxista, fala como empregado explorado lutando contra o patrão injusto ao tentar tirar vantagem do que puder dos recursos disponíveis. Como tudo é auditado, somos mais e mais burocratizados.

    Você está pensando só em burocratização ou também em hierarquia/ falta de fluidez?

    (terceirização) Depende dos recursos (humanos, estruturais e organizacionais) de que a instituição dispõe. Se houver condições internas pra “fazer eu mesmo” sem prejudicar o foco de atuação, não vejo problema.
    Mas vamos a um exemplo: alguns dos programas que temos contam com dedicação de pessoas que trabalham bem melhor em casa, por conta, se enriquecem de experiências que têm em outros trabalhos e não querem trabalhar em regime de CLT. Muitas vezes são muito melhores/ têm mais condições para fazer determinados tipos de trabalho do que os empregados internos.

    (matemática) Fico feliz em você ter achado “breve e objetivo”. Acho que caio fácil no obscuro e prolixo. Precisa revisão constante.

    Trabalho em grupo: é nele que trabalhamos verdadeiramente o social/ humano de que falo. A que se refere a ética se não a relações humanas? Acho muito pobre essa enxurrada de manifestações individuais, de mão única, do que “o mundo deveria ser” – e-mails, tweets, orkuts & afins –sem a vivência, sem o embate, sem a troca de experiências, de tentativas, de falhas, de análises, etc.
    A questão é: as pessoas estão prontas para serem criticadas? Estão prontas pra ouvir que sua atitude não foi a mais ética ou eficiente? Isso tem que ser trabalhado, mas não se trabalha em via de mão única. Tem que ser na prática, tentando fazer algo acontecer, tendo algum norte.
    É no trabalho em grupo que colocamos à prova nossos valores e temos a chance de fazer algo democraticamente. E esses trabalhos costumam influenciar a postura que a pessoa tem fora do grupo também, mesmo quando está “anônima”. Dar palestra todo mundo dá, até no ônibus. Na ação cotidiana está o desafio de fazer valer esses conceitos.
    Não sei se era isso, mas acho que se escrever mais a chance de me desviar é maior. ;)

    Beijos,
    Lu

    ResponderExcluir
  19. PS: acho que você ficou com a impressão de que estou escrevendo muito porque aqui o espaço é bem mais estreito que no Stoa hein. ;)

    ResponderExcluir
  20. Olá Lu! Boa tarde :)

    (projeto) Creio que sua premissa está correta: se não houvesse tanta gente querendo tirar vantagem, não seria necessário haver tantas leis.

    Mas existem alguns complexificadores, na minha opinião: só vamos diminuir a proporção de pessoas que querem tirar vantagem de dinheiro público quando tivermos educação universal, de qualidade e gratuita.

    Os estados nacionais são, em certos aspectos, predadores dos cidadãos. O nosso estado talvez mais do que a maioria. De modo que é generalizada a opinião de que roubar do governo é roubar de ladrão, e portanto aceitável.

    Tenho certeza que você já deve ter tido a experiência desagradável de ouvir esses argumentos da boca de alguém justificando porque não utilizou algum recurso de maneira ética.

    Quero muito te ouvir falando sobre isso...

    Eu não tenho experiência profissional em administração, então para mim burocracia, hierarquia e rigidez não estão definidos precisamente. Se você puder me iluminar, prometo absorver tanto quanto puder, Lu-canna :)

    (terceirização) Me parece exemplar essa maneira de utilizar o mecanismo da terceirização: no exemplo, me parece que tanto a organização quanto o terceirizado preferem trabalhar dessa maneira (não é algo que a empresa obriga o terceirizado a fazer, para pagar menos impostos) e o resultado é maior produtividade para a organização e maior satisfação profissional para o terceirizado.

    (matemática) Clara, lúcida, objetiva... Preciso parar por aqui, querida, pois não quero que você feche também este blog por eu ter me derramado em elogios. Mas você bem que merece :)

    Não se preocupe: vou mandar os elogios por email... :)

    (crítica) Como você fala com experiência, foi direto na jugular, creio: as pessoas usam computadores e celulares para não terem o embate direto, para não ouvirem da boca de alguém, na frente de muitos, que elas agiram errado por um motivo específico. Têm medo da emoção.

    E a coisa mais admirável seria a pessoa dar o braço a torcer, dar o exemplo de vida, dizer "Sim, você está certo, eu errei e aprendi. Obrigado."

    Mas estamos sempre tão preocupados com nossa imagem, com o que pensam de nós, que é quase institivo proteger nossos escudos com nosso corpo...

    As máscaras, a imagem que projetamos, o que pensam de nós, é importante, é divertido, é parte de nós, mas é um instrumento, é um escudo, é dispensável.

    Lu, aqui eu manterei a guarda alta. Não feche o blog, você escreve de maneira exemplar sobre assuntos importantes, quero que isto esteja disponível para todos.

    Mas o que eu mais quero é estreitar o espaço entre nós :) Deixo os detalhes para o email.

    Beijos,
    Renato.

    ResponderExcluir
  21. Olá Renato!

    (burocracia) Sim, não dá só pra reclamar da burocracia, é preciso entender suas raízes e mudá-las, o que pode ser aplicado a muitas outras coisas além de burocracia.
    A educação é momento privilegiado de tentar interferir nas pessoas do futuro.

    Você acha que a educação deve ser gratuita em todos os casos? Poderia explicar por quê?

    (diferenças) Burocracia se refere mais ao controle de processos através de protocolos, assinaturas, registros, relatórios, documentação, etc.

    Hierarquia é a organização dos processos em níveis (de cargos, autoridades) em que o trabalho se divide. Normalmente as decisões são concentradas nos níveis mais altos e a execução nos mais baixos. Existe flexibilidade, mas quando falo em mais hierarquização é quando isso está muito engessado.

    Um exemplo bobo de alta hierarquização: um superintendente tem que decidir tudo, até se vai ser servido chá ou café em uma reunião. Ele tem tanto a decidir, fundamental ou não, que não dá a devida atenção a quase nada e escolhe sem critério.
    A pessoa que executará o a reunião deve providenciar tudo sem poder de decisão algum, mesmo que tenha know-how – neste caso, digamos que a pessoa sabe que os participantes não tomam café, então que não adiantaria pedir. Mas tem que acatar a decisão de um superior, por respeito à hierarquia, e “se virar” com o resultado.

    (terceirização) Nesse caso sim. É claro que há casos em que a relação não leva em conta os interesses de ambas as partes. É por isso que toda relação precisa ser analisada em contexto, ao invés de dizer que toda relação do tipo X ou Y é boa ou ruim.
    P.S.: não estou falando de casos extremos, como violência, humilhação, etc, etc. Acho que concordamos que algumas coisas não são passíveis de relativizar muito, certo?

    (matemática) Fechar o blog por elogios? E o que eu ganho com isso? ;)
    Restringi nossas outras conversas porque comecei a colocar informação pessoal demais ali, e não queria limitar a nossa fluidez por excesso de cuidados.


    (crítica) Não acho que as pessoas usem telefone e internet por isso, mas a conveniência desses meios tem canalizado muita vontade de ação em simples repasse de e-mails. Não sou contra usar esse meio, mas idealizo que as pessoas se envolvam mais efetivamente em pelo menos um assunto, ao invés de ficar tangenciando muitos, sem acertar nem errar e aprender.

    "E a coisa mais admirável seria a pessoa dar o braço a torcer, dar o exemplo de vida, dizer "Sim, você está certo, eu errei e aprendi. Obrigado."
    Sinto cheiro de indireta aqui. Acho que vou aproveitar as meias palavras e fingir que não senti nada...

    "proteger nossos escudos com nosso corpo" Não era o contrário?

    "máscaras, a imagem que projetamos, o que pensam de nós, é importante, é divertido, é parte de nós, mas é um instrumento, é um escudo, é dispensável."

    Não acho que instrumentos sejam dispensáveis, se estiverem servindo a um propósito bem refletido e de forma responsável.

    Beijos,
    Lu

    ResponderExcluir
  22. Olá Luciana!

    (burocracia) Sempre fico contente quando você nos relembra de que reclamar não basta - somente agindo de maneira a resolver o problema sobre o qual se reclama é que se está "fazendo a coisa certa".

    Quanto à educação, não seria melhor usar uma palavra menos carregada do que "interferir", para designar nosso objetivo ao educar crianças? Eu entendi perfeitamente o que você quis dizer, mas sabe como é, propaganda é a arma do négocio...

    Sim, creio que educação deveria ser gratuita, sempre. Da creche à pós, deveríamos ter vagas disponíveis para todas as pessoas interessadas. O motivo é muito simples: através da educação podemos resolver parcialmente todos os problemas que nos afligem, desde a miséria até a pobreza.

    É claro que isto implica em custos, a serem pagos com investimento de dinheiro público. E como a vontade política para fazer isso não irá aparecer do dia para a noite, não é possível oferecer todas as vagas imediatamente.
    De modo que é preciso escolher o "menor dos males", e eu creio que a opção a se adotar é privilegiar sempre os níveis mais fundamentais do ensino, pois como você mesma disse, é educando crianças nessa idade que se obtém os resultados mais significativos e duradouros, e portanto se não podemos ainda oferecer as oportunidades que todos merecem, ao menos teremos feito a escolha que dá a maior chance, ao maior número.

    Como nada é muito simples neste país, temos que levar em conta que precisamos imediatamente de pessoas capacitadas nos diferentes "graus" educacionais, e portanto não podemos ignorar o níveis superiores; o que eu proponho é que os investimentos nesse quinhão sejam mantidos ou aumentados lentamente, enquanto que os invetimentos em educação fundamental sejam aumentados até que tenhamos educação pública fundamental universal de boa qualidade.

    (diferenças) Novamente, você nos ensina algo útil de maneira clara e breve. Está querendo uns elogios, né?

    (relativização) Ah! É impressão minha ou você finalmente está concordando que existem problemas com a relativização? :) É claro que certas coisas abomináveis não devem ser relativizadas. Mas isso não quer dizer que sejam desprovidas de complexidade. E como esses detalhes podem fazer toda a diferença, é o caso de perguntar, por que ocorreu a violência? O que pode ser feito para evitar uma recorrência?

    (matemática) Ah, entendi! Então você não importa se eu ficar te fazendo "carinho virtual" na "frente dos outros", né?

    (crítica) Tinha em mente especificamente as pessoas não participarem de atividades em grupo, mas relendo percebo que não fui muito claro. Tenho muito a aprender com você nesse quesito :)

    (indireta) Hehehe... Vou fingir que não escrevo tudo o que escrevo pensando em você nas entrelinhas... Então estamos quites!

    Escrevi demais, e vou ter que quebrar em resposta em duas. Continua logo abaixo!

    ResponderExcluir
  23. > "proteger nossos escudos com nosso corpo" Não era o contrário?

    Deveria ser o contrário - mas o que eu quis dizer é que temos essas máscaras sociais que são como escudos, que protegem nossa sensibilidade emocional do ambiente hostil que é o mundo atual, mas deveríamos deixar que os escudos sejam trincados, riscados, quebrados, e manter nossos corpos protegidos. Mas muita gente tem amor indevido ao seu escudo, ao "que pensam de mim", à máscara. E acabam sacrificando a saúde para serem vistos de certa maneira, ou o seu tempo, para fazerem a mesma coisa que a manada, para não serem vistos como "anormais".

    Enfim, proteger o escudo com o corpo é uma distorção, que infelizmente me parece comum... Eu mesmo já me peguei fazendo isso N vezes. Então procuro não usar escudos anymore.

    > "máscaras, a imagem que projetamos, o que pensam de nós, é importante, é divertido, é parte de nós, mas é um instrumento, é um escudo, é dispensável."

    > Não acho que instrumentos sejam dispensáveis, se estiverem servindo a um propósito bem refletido e de forma responsável.

    Eu creio que sim. O que importa efetivamente é refletirmos sobre nossos propósitos, escolhermos responsavelmente (ou seja, considerando as demais pessoas), e agirmos de modo a alcançarmos os propósitos, sem sacrificarmos conquistas anteriores. Isso já é difícil de fazer por si só, imagine se colocarmos também a restrição de não podermos dispensar instrumentos...

    Concretamente, isso me parece inegável. Todos os instrumentos materiais que usamos acabam se desgastando e têm que ser reproduzidos, o que acaba sendo uma vantagem pois temos sempre a oportunidade de aprimora-los.

    Abstratamente, é menos perceptível, mas ainda assim verdadeiro. Quando eu dou uma aula, ou faço uma apresentação, tenho sempre em mente que estou "no comando" de não apenas uma ou duas horas do meu tempo: serão uma ou duas horas do tempo de cada pessoa que estiver na sala. Isso pode se traduzir em uma grande responsabilidade - e uma grande oportunidade, também. De modo que se eu estou triste, ou preocupado, ou, enfim, não exatamente no melhor dos humores, creio que vale muito a pena instrumentalizar meu sorriso, meu bom humor, e tentar fazer com que essas N horas "valham a pena".

    Uma vez fechadas as cortinas, posso voltar à minha tristeza de ainda estar longe de você.

    Beijos!
    Rê.

    ResponderExcluir
  24. Bom dia!!

    (educação) hehe “interferir” foi de propósito. Afinal, o que é a educação se não querermos passar o que acreditamos para o futuro? Vou bancar o advogado do diabo aqui. Não vejo problema em dar nomes não tão belos ao que fazemos, especialmente se for para ter mais clareza do que está em jogo.

    O que você pensa de proibir a cobrança da educação infantil? Acha que seria mais eficiente para democratizar educação de qualidade/ envolver as pessoas na luta pela educação?

    (diferenças) Você acha que promoveria a educação elogiar todos os professores?

    (relativização) Sim, e se perguntar por que e como mudar as coisas que nos incomodam deve ser feito em casos generalizáveis ou relativos.

    (matemática) haha abaixo o moralismo!

    (crítica) São os caminhos da comunicação. Clareza é questão de exercício e afinação de pensamentos.

    (escudos) Ah! O escudo é a imagem. Na verdade não penso em priorizar a preservação do corpo, mas do que construímos como valores – entre os quais pode se incluir, sim, a saúde.
    Sem tristeza, Rê. Usando a metáfora da viagem, se temos alguma direção a seguir, os percalços ficam mais leves.

    Beijos!

    Lu

    ResponderExcluir
  25. Olá Lu! Bom dia, meu anjo!

    (interferir) Hmmm... Você está aprendendo a apertar meus botões? Já está prevendo corretamente com que palavras e expressões eu vou encrencar? Ok - vai ter troco :)

    Mas eu vejo problema sim em falar em interferir com o futuro das crianças, pois o termo interferir é utilizado em geral com uma conotação negativa, especialmente no sentido de "interferir na vida" de alguém. Para dizer que queremos ter uma influência positiva, em geral se fala em "melhorar a vida" de alguém.

    De modo que, se o objetivo é ter mais clareza, vamos usar as palavras que geralmente se usa para falar das coisas. 'A ideologia consumista interfere no desenvolvimento das crianças'. 'A educação de qualidade melhora o futuro delas'. Claro, simples e compreensível.

    (cobrança) Hmmm... Creio que num mundo ideal, teria que ser feito isso mesmo: "Pára o mundo que eu quero descer!" :) Mas a realidade é mais complexa, e creio que a melhor maneira de fazer as coisas é respeitando os limites do que é possível, pois assim a transformação que queremos que ocorra terá mais chances de ser permanente.

    Em outras palavras, se de uma hora para a outra tivéssemos uma canetada que acaba com a educação paga, o que teríamos em menos de uma hora seria um sem-número de instituições que cobram "por baixo dos panos". Isso apenas mudaria a cara do problema, sem atacar as raízes desse problema.

    Acho que a maneira mais eficiente de mudar isso é pensando 'transgeneracionalmente' :P

    Ou seja, precisamos fazer tudo o que for possível para educar com qualidade a próxima geração, que (esperamos) será mais consciente e politizada, e lutará para que seja educada com ainda maior qualidade a próxima geração, e assim sucessivamente.

    Em outras palavras, para envolver as pessoas na luta pela educação é preciso educar as pessoas; para educar as pessoas é preciso de pessoas que lutem pela educação...

    Se agora vemos isso como um problema do-ovo-e-da-galinha, minha esperança é que no futuro vejamos isso como um círculo virtuoso, em que sempre há um número suficiente de guerreiros para garantir que a próxima geração será educada ainda melhor do que a atual.

    A pergunta mais interessante seria: quanto à educação, como mudar da situação atual para a situação ideal?

    Minha reposta seria: focalizando nossos recursos financeiros e humanos na base da pirâmide educacional. Vamos tornar evidente para todo pai e mãe que se seu filho não puder continuar na escola, pelo motivo que seja, isso é a maior tragédia que poderia ocorrer na sua vida.

    (Continua abaixo)

    ResponderExcluir
  26. (elogiar) Não, só merece elogio quem merece elogio. Mas tendo em vista o sacrifício que muitos fazem para concretizar aquilo em que acreditam, os professores brasileiros que apenas fazem o seu trabalho já são bastante heróicos.

    Mas creio que faria mais diferença se em vez de elogios eles recebessem melhores salários: isso atrairia pessoas mais e mais capacitadas para a profissão, o que por sua vez faria com que a classe seja vista como mais competente, e mais elogios e honras seguiriam.

    (relativização) Hehehe... Se devemos nos questionar no relativo e no geral, então podemos simplifcar e dizer que devemos nos questionar, em geral? :)

    (matemática) Ótimo... Eu também não vejo problemas em me expor ao escrever abertamente o quanto gosto de você. Pelo contrário; eu acho que ao fazer isto "os outros" podem perceber que eu aprecio a inteligência, a beleza interna e a externa, a perspicácia, o bom humor, a inteligência, o não se importar com pequenos deslizes ;)

    Enfim... Quando eu te elogio eu também mostro que eu sei escolher bem :) De modo que na verdade isto tudo é apenas para satisfazer meu interesse próprio :D

    (crítica) Hmmm... Bem, vamos nos exercitar juntos, então... E já que você está cada vez mais hábil em me "tocar", poderia me deixar "afinado" também :)

    (tristeza) Mas como dói topar com o dedão nesse percalço! :D

    Não estou triste, foi apenas um recurso estilístico: eu havia escrito sobre a instrumentalização da alegria, ou melhor, sobre fingir alegria, então eu falei que estou genuinamente triste por não estarmos juntos, não porque esteja realmente triste, mas porque estou genuinamente sentindo algo por você. O contraste é que eu achei que seria literariamente interessante.

    Mas o que sinto está bem longe de tristeza ;)

    Mil beijos, minha querida!
    Já falta menos de uma semana, vou começar a contar as horas :)
    Rê.

    ResponderExcluir
  27. Olá Rê (ainda estou devendo o apelido né...)

    (interferir) Entendo o que você quis dizer e concordo no efeito positivo da palavra. Usar o “termo certo” ajuda muito a manter o envolvimento de pessoas que lutam nessa área. Ao mesmo tempo, “interferir” me soa mais forte do que “influenciar”. Só se encontrássemos uma palavra forte com conotação positiva, para não acharmos que tudo o que é negativo interfere (mais direto) e tudo o que é positivo influencia (mais abstrato).

    (educação) Também acredito nessa 'transgeneracionalidade'. Mas, respeitando as práticas nesse sentido, gosto de tentar pensar o que ainda não foi posto em jogo (pelo menos não que eu tenha conhecimento).
    Acho que a proibição da cobrança seria sim viável e passível de controle se fosse feita aos poucos. Dividindo por série, âmbito, etc. Digamos que poderíamos começar com a proibição de cobrança de creches no município, depois do estado... depois da pré-escola... e assim vai. Com alguma articulação política é possível encarar a questão, fiscalizar, dar apoio à organização civil no sentido de lidar com a nova configuração... Está cada vez mais difícil achar gente com vontade política suficiente no poder público para isso, mas ainda acredito que exista.
    Eu acredito que essa proibição deveria vir acompanhada de organização social no sentido de promover a educação para todos (comissões, associações de bairro) e que estando todos na mesma situação (inclusive os que hoje pagam) seria mais fácil conseguir gente disposta e disponível para mudar as coisas.
    Hoje se tentarmos criar um movimento vamos esbarrar na falta de vontade de muitos que acreditam que a única saída para o próprio filho ter educação de qualidade é pagar. Em um contexto em que ninguém paga, em que todos os filhos estão sujeitos às mesmas condições, essa falta de vontade não teria respaldo.

    (elogiar) Será que altos salários são suficientes para motivar um professor em péssimas condições de trabalho e falta de incentivos para qualificar-se? Lembro que no último Fórum Mundial de Educação de que participei os professores estavam indo à revelia do governo, que não queria abonar a falta, quanto menos incentivar a ir...

    (relativização) Que devemos nos questionar. “Em geral” parece tão vazio...

    (matemática) Haha inteligente, perspicaz, bem humorado, e escreveu “inteligência” duas vezes - porque os elogios não me intimidam a ponto de deixar de corrigir essas coisinhas chatas. Não se esqueça de como começou a falar comigo...

    (crítica) sim, o aprendizado é sempre mútuo.

    (tristeza) Melhor assim :)

    Mil beijos

    Lu

    ResponderExcluir
  28. Olá Lu! Boa tarde! :)

    > Olá Rê (ainda estou devendo o apelido né...)

    Sim... Isso é um absurdo!!! Vou aí cobrar! :)

    (interferir) Vamos fazer assim: deixar esse problema de lado, mas se a palavra certa aparecer... Vamos agir de acordo :) O importante não é tanto as palavras que usamos, mas o efeito que causamos.

    Então dizer que vamos "influenciar" ou que vamos "interferir" pode ser útil num certo contexto, e não em outro. Vamos manter a cabeça focada no objetivo de promover a educação, e utilizar as palavras que terão o maior impacto na realização dos nossos objetivos.

    (educação) Torço para que consigamos fazer isso um dia. Mas vamos pensar menor: que argumentos podemos apresentar aos deputados municipais para que aprovem uma tal medida, num futuro próximo? Que ações podemos tomar para que essa ação se torne politicagemmente mais interessante?

    E se fizermos ao contrário? Criar as associações de bairro, de comunidade, lutar para que tenham recursos públicos e que ofereçam serviços de qualidade, e só então, quando estiver demonstrado que pode ser feito, e que o resultado é melhor, é que se proibiria a cobrança?

    Em outras palavras, que tal se a proibição for o acompanhamento da organização social, e não o contrário?

    (elogiar) Eu creio que um professor - ou alguém de outra profissão - desiludido pode até se reanimar com um bom salário, mas isso não é necessariamente verdadeiro. Mas eu creio que se professores recebessem bons salários, de maneira constante durante alguns anos, isto iria atrair pessoas mais e mais qualificadas para que se iniciem na profissão.

    Enfim, eu sei que existe muita tragédia pessoal na desvalorização dos professores, mas estou disposto a ignorar até mesmo isso em nome de uma medida que diminua essa desvalorização no futuro.

    (relativização) Ora, ora, Lu, uma mente tão lógica como a sua e você acha que generalizações são vácuas? As generalizações não são vazias: elas são o núcleo indestrutível de verdade que resistiu a todas as objeções, a todas as teimosias, a todos os beicinhos, a todas as chantagens emocionais... ;)

    Falando sério... As generalizações falam muito pouco de substantivo, mas o que elas falam pode ser utilizado como instrumento de discurso e de pensamento. Eu creio que generalizar é vazio quando desacompanhado da crítica, e a crítica é cega desacompanhada da generalização.

    Se ao menos encontrássemos duas pessoas, uma que arrisca tudo com sua intuição, outra que procura erros lógicos em tudo que ouve... Hmmm...

    (matemática) Logo logo estaremos fazendo tudo errado, juntos. Chega de fazer tudo certo separado! :D

    Linda... Estou com aquele sorriso bobo de novo... Quando fecho os olhos, vejo o seu rosto (dentro de uma caixinha!) :D

    Um beijo pra cada suspiro seu!
    Rê.

    ResponderExcluir
  29. Puxa, tantos comentários, não é mesmo? Acho que nem repararás no meu. E são todos tão inteligentes...
    Concordo contigo quando citas uma pessoa que condena a nossa "materialização" do tempo. Tempo, é vida, não dinheiro, nem nada mais que seja posse, pois o próprio tempo não é posse, ele é que nos possui. Fiz um poema, há uns dois anos (21/4/2007), que se chama TEMPO:
    Tempo.
    Tempo, tempo, tempo...
    Oh, grandioso tempo!
    Supremo feito do Criador.
    Governa todas criaturas.
    Tudo dá e tudo tira;
    Manda alegria, manda dor.

    Tempo.
    Tempo, tempo, tempo...
    Oh, grandioso tempo!
    É rei de todos os mortais.
    Com ele não há quem possa.
    Se quer vir, nada o segura;
    Se quer partir, não volta mais."

    Espero que gostes. Me lembrei dele com muito carinho. A propósito, te achei no Orkut, na comunidade da Hannah Arent, e recordei, ao vir aqui, que "A Condição Humana" é justamente o título de um livro seu, um dos melhores, na minha humilde opinião. É que eu nunca tive muito tempo para me dedicar à fundo nela, e sei que ela é uma leitura difícil. Isto é o que me diziam os meus professores sempre que eu falava que a estava a ler.
    Acho que tempo é algo que não pode ser repartido naquela divisão clássica de passado, presente-e porvir. A vida é muito mais do que isso. Arendt dizia: "O passado nunca morre, e na verdade ele nem mesmo chega a ser passado."
    Abraços, guria e muito boa sorte na tua vida, administres bem teu tempo, não deixes que o tempo administre a ti.
    Au revoir et merci beaucoup pour votre intelligence.

    ResponderExcluir
  30. Oi Rê

    (interferir) Agreed. Vamos fugir do perigo que ronda a academia de ficar focando nos conceitos e esquecer da prática.

    (educação) Por ora só consigo pensar em conversar com algum deputado ou vereador no sentido de promover isso. Acho que internet ainda é um meio que permite muita falta de compromisso.. teria que ser pessoalmente. Tenho uma vaga chance de conseguir isso... Acho que não custa tentar.

    (contrário) não consegui visualizar isso acontecendo a partir de associações de bairro. Cobrar melhoria na educação dos filhos de uma associação? Acha que daria pra contornar e/ou resolver os problemas macroestruturais?

    (elogiar) Falei isso porque conheci vários professores municipais que ganhavam bem para a média da população, mas ainda assim estavam desanimados com o trabalho pelas suas condições, falta de apoio, etc. Imagino que trabalhar em um lugar que os apoiasse daria inclusive gás pra lutar por melhorias... Não estou por dentro disso. Será que é discutido no sindicato? Você já foi professor, não foi? Sabe dizer isso?

    (relativização) Concordo quando você fala da crítica dever acompanhar a generalização. E uma boa crítica generaliza apenas quando é generalizável. Concorda?

    (duas pessoas) prepare-se pra uma proposta indecente pra quando você chegar. Acho que juntos podemos despertar alguns homens de poder para questões relevantes. Mesmo que você não tenha estômago pra eles, pode ajudar na estratégia. Que tal?

    Beijos altos – pra tentar te alcançar, a essa hora.

    Lu

    ResponderExcluir
  31. Abdoul

    Não vejo essa relação de posse com o tempo, nem direta, nem inversa.
    Posse dá a impressão de algo total. Como você mesmo citou ao final, administramo-lo.
    O tempo é mais um de tantos elementos dúbios, que dão dinamismo (para alguns confusão) à nossa vida; estamos ao mesmo tempo submetidos a ele e ao mesmo tempo o manipulamos para os nossos propósitos.

    Também aprecio A Condição Humana; também preciso pegar os livros dela de novo, mas mesmo sendo um pouco difíceis, sei que vale a pena.

    Não me lembro da frase que citou da Arendt. Se você puder me responder, agradeço: por que o passado não chega a ser passado?

    Au revoir mon ami.

    ResponderExcluir
  32. Olá Lu!!!

    (educação) O que eu quis dizer é que as associações locais deveriam ser o veículo através do qual as pessoas cobram os políticos. Realmente não tem sentido cobrar deles algo pelo qual eles não são responsáveis e nem têm os recursos para realizar.

    (elogiar) Só trabalhei dando aulas particulares e como voluntário - nunca fui professor de escola. Então não me sinto capaz de avaliar a situação.

    (relativização) Concordo em parte. Eu não penso no discurso como algo acabado e imexível; para mim tudo flui. Então por que só se deve enunciar "boas" generalizações?

    Não creio que isso seja uma regra que deva ser seguida sempre. Creio sim que é bom generalizar indevidamente, especialmente quando essa generalização for algo que "parece" razoável à primeira vista.

    É aí que você entra, digo é aí que uma pessoa que critica ferozmente entra :) Os generalizadores podem produzir inúmeras generalizações, como crianças fazendo bolhas de sabão.

    Você tem um alfinete, gosta de se divertir estourando as bolhas discursivas... E se deixar uma bolha escapar... Então essa bolha resistiu à sua crítica. Deixe-a voar.

    (Duas pessoas) Eu não vejo como posso ajudar. Mas se você acredita que pode me orientar de modo a ser útil nesse sentido, use-me. Estou em boas mãos.

    Os beijos que você me mandou para o avião eu gastei todos. Agora que estou aqui posso ir buscar mais alguns?
    Rê.

    ResponderExcluir
  33. Oi Rê

    Bom, acabei privilegiando outro meio de contato... Espero que não se importe de ter deixado o blog um pouco abandonado! :)

    (relativização) Por “boa” crítica não quis dizer que a crítica avalia como positivo, mas que é uma crítica bem feita.

    Beijo
    Lu

    ResponderExcluir
  34. Olá borboletinha!

    (blog) Me importo sim! Quero você de corpo e alma... E este blog serve para nós deixarmos uma trilha intelectual por onde formos passeando.

    Linda, quero estar sempre acrescentando coisas boas à sua vida. Nossas conversas virtuais são boas, vamos cultiva-las!

    Beijos de saudade virtual,
    Rê.

    ResponderExcluir
  35. Você sabe o que quis dizer... Tem coisas que foram respondidas pessoalmente, que pra responder no blog careceriam de contexto.

    Não vejo problema em continuarmos discutindo virtualmente, mas nesse caso vamos ter que tentar restringir alguns assuntos à internet, pra não perdermos foco. Certo?

    Talvez nosso plano pela melhoria do transporte público tenha mais espaço por escrito - assim nos planejamos direito também, sem o risco de perder idéias por aí. Que tal?

    ResponderExcluir
  36. Oi Lu!

    Combinado! Assim que tivermos a página sobre trânsito no ar, coloco um link aqui.

    Que tal se conversarmos sobre literatura e sobre seu livro (assim que eu ler :) por aqui?

    Beijos!

    ResponderExcluir
  37. Combinado!

    Semama que vem tenho mais livros.
    Vamos equilibrar tudo!
    Sangue, brinquedos, amor, literatura, trânsito, educação, política... :)

    Beijo!

    ResponderExcluir
  38. Oi linda!

    (boa crítica) Eu já havia entendido que você entende por boa crítica uma crítica bem-feita. Analogamente, uma boa generalização é uma generalização bem-feita.

    Meu ponto é que uma generalização mal-feita também é interessante, pois ao indicar qual o erro relacionado a essa generalização, temos a oportunidade de indicar uma nova faceta do problema em questão.

    Por exemplo, hoje o Supremo decidiu manter a censura ao Estadão. Poderíamos generalizar e dizer "o Supremo sempre mantém a censura". Mas uma pesquisa superficial nos mostraria que o Supremo nem sempre mantém censuras, mas que um levantamento estatístico (hipotético) talvez mostre que quando se tratam de informações de políticos poderosos, a censura é mantida, e em outros casos não.

    Nesse exemplo, foi feita uma má generalização, e ao indicar o erro dessa generalização, encontramos uma informação valiosa, que ilumina um aspecto da questão que não havia sido apresentado claramente antes.

    Enfim, creio que o bottom line é que o que eu estou defendendo é, no âmbito do discurso, fazer dos limões limonadas.

    Linda, uma ótima viagem, divirta-se muito!!!

    Mil beijos!
    Rê.

    ResponderExcluir
  39. Oi!

    (boa generalização) concordo. Crítica não é negação. Quando critico uma generalização não nego a idéia por completo, só tento me aproximar mais da realidade, que não é homogênea.

    (Estadão) Sim, é no momento em que fugimos de generalizações fáceis que temos a chance de ir mais a fundo na questão e tentar entender por que e como as coisas acontecem. Com esse entendimento temos chance de interferir com eficácia. Mas é preciso querer isso. Quem tem preguiça de pensar adora interpretações prontas e gerais pra poder ficar na famosa zona de conforto, em que falamos mal de tudo sem nos responsabilizarmos por nada.

    Entendi sim o que você quis dizer, ainda mais porque percebi que você não tem preguiça de pensar nem de fazer as coisas. :)

    Mil beijos
    Lu

    ResponderExcluir
  40. Oi Lu!

    (crítica) Você concorda que o movimento discursivo de criticar uma generalização sem negar sua idéia subjacente por completo, e tentando aproximar a generalização da heterogeneidade real é em geral uma complexificação da generalização, é por exemplo adicionar uma exceção, ou definir os limites de aplicabilidade da generalização?

    E dessa maneira abre-se espaço lógico para afirmar coisas sobre as partes da realidade que não são descritas pela generalização criticada. De modo que uma boa crítica pode ser acompanhada de uma boa afirmação?

    (Estadão) Ei!!! Elogio fora dos emails é golpe baixo :D

    (Preguiça de pensar) Eu costumo caracterizar essa atitude como "medo do desconhecido".

    Engraçado como a maneira como a gente rotula os "outros" revela algo sobre nós... Você gosta de se pensar como "batalhadora"? Eu gosto de me pensar como "corajoso". Mesmo que seja só em pensamento :D !!!

    Beijos!!!
    Rê.

    ResponderExcluir
  41. Oi!

    (crítica) sim.

    (elogios) Quando você me convidou para o dojo eu aceitei, lembra? ;)

    (preguiça de pensar) medo pode ser uma das razões. Mas tem gente que mesmo conhecendo arruma bons pretextos pra ficar na zona de conforto.

    (rótulos) Certamente. Mais uma abstração que serve pra lidar com a realidade e cercar os pensamentos de “bordas valorativas”. Já leu Foucault a esse respeito?

    Beijos!

    Lu

    ResponderExcluir
  42. Oi Lu!

    (preguiça de pensar) No caso das pessoas que conhecem, que sabem que deveriam estar fazendo algo, qual o limite entre preguiça e mau caráter?

    (rótulos) Ainda não! Qual texto dele lida com isso? Você poderia expor o que lembra do conceito dele nas suas palavras?

    Beijos,
    Rê.

    ResponderExcluir
  43. Oi!

    (preguiça de pensar) bom, vou ter que dar uma opinião bem pessoal aqui.

    Preguiça é quando não existe o interesse em desenvolver o raciocínio acerca do que se pode fazer a respeito; o velho “é muito complicado” e isso basta pra não tentar entender.

    Mau caráter é quando há disposição para o raciocínio, mas ao invés de trabalhar isso a pessoa toma conscientemente o caminho da zona de conforto e usa o raciocínio apenas para justificar a fuga.

    (rótulos) tentando explicar as bordas:
    Se não tivermos referências valorativas, que orientam nossas ações, vamos agir de forma solta, descomprometida, sem parâmetro. Quando você fala em se pensar batalhadora ou corajoso, são parâmetros valorativos que a gente quer seguir, que podem nos ajudar a guiar nossas ações. “bordas” porque servem como se fossem barreiras laterais empurrando a ação ou informação livre para um caminho.

    Tentei recuperar o texto e não achei. Vou consultar um amigo que deve ter.

    Beijo!

    Lu

    ResponderExcluir
  44. Oi Lu!

    (preguiça de pensar) E o que você acha das situações em que a pessoa não quer pensar em algo devido a um certo "nojo" intelectual? (Não creio que nojo seja a palavra certa). Penso em situações como as em que uma pessoa não quer pensar nos problemas de violência, preconceito, sexualidade, enfim, problemas que despertam sentimentos fortes quando não refletimos sobre esses problemas regularmente.

    Nesse caso, o velho não é necessariamente complicado, é apenas algo que está fora da zona de conforto por um motivo emocional, e não de preguiça.

    (rótulos) Concordo - valores são em geral "meramente inficativos", ou seja, são objetivos, balizas, instrumentos. É parte da sociabilidade que flexibilizemos nossos requisitos morais em determinadas situações, sob pena de nos tornarmos ortodoxos.

    Beijos!
    Rê.

    ResponderExcluir
  45. Oi!

    Nossa, sua foto está aparecendo distorcida pra mim, parece foto de bandido procurado! :D

    (preguiça de pensar) bom, você respondeu: zona de conforto por um motivo emocional, e não de preguiça. Mesmo assim tenho dúvidas a respeito desse “emocional”. O que poderia ser?

    Beijo!

    Lu

    ResponderExcluir
  46. Oi Lu!

    (foto) Estranho... Para mim a foto às vezes aparece normal, às vezes não aparece. Acho que o blogger não é muito amigo de Linux.

    (preguiça de pensar) Bem, por exemplo: uma pessoa que tenha memórias de sua família intimamente ligadas a memórias de eventos religiosos - missas, quermesses, rezas, funerais, etc. Poderia até aceitar de uma maneira muito abstrata que a religião pode ser discutida, mas ela mesma jamais o faria, pois isso contradiz o embasamento emocional dela.

    Outro exemplo: alguém que tenha presenciado alguém se autodestruir com drogas, e tenha formado sua opinião quanto ao uso de drogas com base no desespero de testemunhar a autodestruição desse ente querido, pode de maneira abstrata aceitar que seja discutido o uso da droga como estimulante mental, mas jamais aceitaria intimamente a validade desse argumento, pois emocionalmente isso não seria coerente para ela.

    Enfim, o que quero dizer é que apesar de toda nossa educação e racionalidade, somos animais antes de tudo, e entre nossa razão e nossa animalidade se situa nossa emocionalidade, ou seja, as emoções são a base onde construímos nossa razão, e portanto é muito comum que uma pessoa engane a si mesma "racionalizando" em torno de uma emoção - ao invés de raciocinar com uma lógica isenta, e então verificar se isso condiz ou não seus sentimentos.

    Ao menos para mim, essa questão é bastante clara: eu estou consciente de que muitas vezes eu decido algo por razões emocionais, mas frequentemente nesses casos eu "embrulho" a decisão com racionalizações, argumentos sem grande embasamento, que apenas justificam, para mim mesmo, a decisão. Que dão uma aparência (para mim mesmo) de que a decisão foi racional. Mas na verdade foi emocional.

    Mas também é claro pra você do que estou falando? Acontece com frequência?

    Beijos totalmente irracionais,
    Rê.

    ResponderExcluir
  47. Oi!

    Você não acha que a razão pode combater preconceitos emocionais?
    Não digo com isso que qualquer emoção seja preconceito, aliás, muitas emoções devem ser levadas em conta em discussões intelectuais; mas acho que uma crítica atenta pode desmascarar emoções mal pensadas, mas bem embrulhadas.

    Quando não há muita habilidade em debater dos dois (ou mais) lados, o bom argumentador leva a melhor mesmo estando errado, claro.
    Mas havendo disposição pra um bom debate - investigação mental e abertura pra ser investigado - creio que a razão depure a idéia, encontre o que afetou a emoção, por que, se isso faz sentido em um contexto mais amplo, em que medida, etc.

    Beijos mistos - razão pra guiar a emoção que nasce sem freio no melhor caminho para ambas.

    Lu

    ResponderExcluir
  48. Oi Lu!!

    Sim, creio que a razão possa destrinchar as emoções por trás de um argumento, mas somente quando o investigador é "esperto" e tenta entender o que foi dito a partir desse ângulo.

    Digamos que uma pessoa afirme algo que é na verdade uma racionalização de sua crença fundada na emoção. Através da razão pura e simples, um debatedor pode concluir pela falsidade da afirmação inicial.

    Mas somente se o debatedor tiver em mente que a afirmação tem um objetivo psicológico é que ele/a será capaz de perceber que a falsidade do argumento já era sabido quando foi feita a afirmação, mas que o argumento foi proposto mesmo assim pois isso deu vazão a uma necessidade emocional do sujeito.

    E assim um bom debatedor poderia não só falsear a afirmação, mas também revelar um pouco da psique da pessoa.

    Beijos!
    Rê.

    ResponderExcluir
  49. Oi!

    Eu particularmente não gosto de tentar dizer o que estava por trás do embrulho quando ele foi desfeito, especialmente porque acho que psicologia feita por não psicólogos (psicologismo) pode levar a rótulos e conceitos mal formados.

    Beijos!

    Lu

    ResponderExcluir
  50. Oi Lu!

    Vou refletir sobre o que isso revela a seu respeito e depois respondo!

    Beijos :)
    Rê.

    ResponderExcluir
  51. Não se contagie pelos meus lapsos de preguiça mental influenciados por overdose (bem vinda) de contato pessoal!

    Beijo

    ResponderExcluir
  52. Oi Lu!

    Pode deixar, não vou me deixar influenciar pela overdose de Lu.

    Quer dizer, não vou me deixar influenciar nas suas coisas ruins, nesse monte de defeitos que você tem.

    Por exemplo, sua inteligência que fascina, beleza que cega, personalidade que enlouquece...

    Vou continuar procurando detalhezinhos que escaparam... Só pra fazer você falar, e ser novamente fulminado pelo seu olhar.

    Por exemplo, eu não creio que psicologismo seja psicologia feita por não-psicólogos.

    Eu creio que psicologismo é a utilização indevida de conceitos da psicologia para explicar fenômenos que não são da alçada da psicologia, e isso pode ser feito por psicólogos.

    Por outro lado, não-psicólogos podem utilizar conceitos da psicologia de maneira razoável e não cair no psicologismo, caso utilizem esses conceitos dentro dos limites em que são aplicáveis.

    Mil beijos fascinados, aturdidos, frementes!
    Rê.

    ResponderExcluir
  53. Oi!

    Nossa, você quase me desarmou aqui. Quase. :)

    Interessante. Penso no psicologismo como falsa psicologia, mas nunca fiz essa distinção. Como podemos chamar a má “psicologia” feita por não psicólogos?
    Exemplo: a pessoa que tenta explicar o humor da vizinha pela profissão do namorado, sem considerar contexto ou tomar nenhum outro cuidado?

    Mil e um!

    Lu

    ResponderExcluir
  54. Oi Lu!

    Se eu "quase" te desarmei, então preciso ir mais fundo nos elogios :)

    Eu penso nessa distinção como sendo análoga à distinção entre 'cientificismo' e 'má ciência'.

    A má ciência é a ciência mal-feita. Por exemplo, caso se trate de algo experimental, os dados podem ter sido obtidos sem um método detalhadamente documentado. Se for uma teoria, algumas passagens das equações podem estar não deduzidas completamente.

    Já o cientificismo é explicar tudo a partir da ciência - em especial, as coisas que não tem cabimento explicar cientificamente. Por exemplo, defender que a personalidade de alguém é explicável a partir da genética, ou que o humor das pessoas pode sempre ser descrito pela psicologia, ou que as decisões de consumo são determinadas pela sociologia.

    O que há de comum nesses casos é querer explicar "tudo" com base em "ismos". No caso do psicologismo, seria achar que tudo se explica psicologicamente.

    Eu creio que a diferença entre o que eu chamo de psicologismo e o que você chama de psicologismo é que para mim essa palavra se refere a uma posição intelectual reducionista, enquanto que para você me parece que o psicologismo é todo mau uso dessa ciência.

    De modo que no seu exemplo da vizinha, eu diria que ela fez má psicologia, mas apenas se ela opinasse que "tudo é psicológico" é que eu diria que ela cometeu um psicologismo.

    Estou te mandando um beijo por telepatia.
    Rê.

    ResponderExcluir
  55. Oi Rê

    (elogios) Sabe aquele professor que nunca dá nota máxima a ninguém, pra fazer os mais teimosos se esforçarem ao máximo? Então...

    (psicologia) Então podemos dizer que alguém que não é psicólogo faz má psicologia?
    Nesse caso existe sempre o argumento de que por não ser psicólogo não tem o dever de fazer boa psicologia, e a crítica à tentativa descuidada de usar psicologia permanece sem jargão!

    Beijo - Telepatia? A ciência suporta isso? ;)
    Lu

    ResponderExcluir
  56. Oi Lu!

    (elogios) "Infeliz é o mestre cujos discípulos não o ultrapassam". Cuidado com o que me ensina hein?! :)

    (psicologia) Todo mundo pode fazer má psicologia, e todo mundo pode fazer psicologismo - mas idealmente ninguém faria.

    E sim, o jargão, da maneira como eu defino, não se aplica ao uso que você descreve - mas isso apenas evidencia que entendemos coisas diferentes quando ouvimos essa expressão.

    Talvez devamos nos focar no uso e não na expressão?

    Beijos cientificamente insuportáveis pra você!
    Rê.

    ResponderExcluir
  57. Oi!

    (elogios) :) O nove e meio é sempre falso, mesmo depois do discípulo haver superado em muito o mestre!

    (psicologia) Como uso uma expressão que não existe de acordo com o vocabulário do meu interlocutor?

    Ei! Insuportáveis por quê?

    Beijos inquisitórios
    Lu

    ResponderExcluir
  58. Oi Lu!

    (psicologia) Acho que agora que nós conseguimos identificar a diferença entre as nossas interpretações quanto a essa expressão, podemos usá-la, pois já sabemos o que ela significa para o outro.

    (insuportáveis) É que a ciência diz que o sentimento é um fenômeno cerebral, limitado ao nosso crânio, mas quando eu te mando um beijo telepático eu sinto que você está sorrindo de volta pra mim.

    Beijos,
    sorrisos,
    Rê.

    ResponderExcluir
  59. Oi!

    Bom, acho que vai ser um exercício constante alinharmos conceitos pra nos comunicar melhor.

    Por exemplo, "insuportável" pra mim passou a idéia de chato, não do que eu chamaria de insustentável cientificamente. ;)

    Beijos nos sorrisos!

    ResponderExcluir
  60. Oi Lu!

    Na verdade eu estava me referindo à sua despedida do comentário anterior:

    Rê: "Estou te mandando um beijo por telepatia."
    Lu: "Beijo - Telepatia? A ciência suporta isso? ;)"
    Rê: "Beijos cientificamente insuportáveis pra você!"

    Beijos cheios de pedantismo,
    Rê.

    ResponderExcluir
  61. :) belo movimento pra mostrar que o ataque foi erro de defesa!

    ResponderExcluir

Obrigada por compartilhar